domingo, 21 de junho de 2009

Temporada OSESP - (Wagner/Hindemith/Tchaikovsky)


Fabio Mechetti regente
Johannes Moser violoncelo


Richard Wagner - Rienzi: Abertura
Paul Hindemith - Concerto para Violoncelo (1940)
Pietr Ilyitch Tchaikovsky - Sinfonia nº 5 em mi menor, Op.64



Nessa semana estamos tendo 3 obras que são muito diferentes uma da outra, com características bem marcantes. O concerto será regido por Fabio Mechetti (diretor-artístico da Filarmônica de Minas Gerais e da Sinfônica de Jacksonville na Flória) e terá como solista da noite o violoncelista Johannes Moser.

Para entender um pouco melhor sobre as obras acho que é legal passear um pouco pela história da música. Postei aqui no blog alguns resumos a respeito dos compositores e das obras que estão sendo apresentadas essa semana.

Crítica a respeito do concerto:
Esse , para mim, foi um dos melhores concertos que eu já vi. Fazia tempo que a orquestra não tocava tão bem, achei incrível a maneira como Mechetti regeu....quer dizer, não a regência em si (pois estava prestando muito mais atenção a música), mas as idéias e intenções que ele deu a música. Geniais!!

A respeito da Abertura de Wagner:
O mais incrível de tudo dessa obra, para mim, são os ambientes que ela consegue criar. No começo aquele suspense, feito pelas cordas em piano e o trompete com uma nota longa, que vai prevalecer pela obra. Até que de repente, aparece um ambiente extremamente caloroso e romântico onde as cordas predominam...O tema que Wagner escreve aí é um dos mais puros e maravilhosos que eu conheço!! (não...mesmo que alguns digam que é muito clichê...eu discordo)

Depois entra uma nova atmosfera: um suspense, porém muito mais "denso".A orquestra cresce muito e volta novamente o grande tema da obra....aahh...eu delirei nesse Wagner..Depois quando entra a percussão e toda a orquestra em uníssono..que medo..hahah. Não é atoa que sempre digo que Wagner é o pai das trilhas sonoras..

Apoós essa nota longa entra uma atmosfera mais alegre, que eu fiquei surpreso (de uma boa maneira), pois os metais da OSESP fizeram belos fraseados para conduzir a frase, e as cordas idem....mesmo no fortíssimo eu conseguia sentir a diferença de frase, intensão e etc...

Ahhh...eu amo a obra e amei o que a OSESP e Mechetti proporcionaram, e olha que eu sou muito chato... Em geral o que me chamou atenção também foi a incrível precisão que os primeiros e segundos violinos tiveram (mais para o final, onde tem uma pequena "conversa", notas super rápidas). Outra coisa que merece ser destacada são as ótimas dinâmicas e conduções que Mechetti fez, tudo era pensado (ou no minimo pareceu). O começo feito sem exagerar no forte...esperando o momento "certo"...dominante resolvendo na tônica, sem perder direção do macrodinamico, metais afinados, sempre juntos..perfeito!

A respeito do Concerto de Cello de Hindemitch
A obra do Hindemitch eu achei interessante e para mim parece contar uma história. Lógico que não é um concerto de Dvorak ou Elgar...mas...tem seus pontos altos. O problema desse concerto foi que o percebia-se claramente a diferença de sonoridade do cello em relação ao tutti orquestral. (extremamente forte).

O concerto de Hindemitch tem linhas melódias atonais bonitas no 1ºmovimento. (Depois dos efeitos de Gubaidulina semana passada, tudo é linha melódica para mim...hahah).
O 2º movimento tem partes muito intensas e rítmicas também que me lembram guerra, essa guerra parece "acabar" com algo que parece uma explosão (feito pelos pratos, no auge da música), logo em seguida, o cello, bem pianíssimo, entra muito "angelicalmente", como se fosse o sol renascendo. Depois o oboé se junta ao cello como se fosse um "esperança" do fim da guerra...No fim do segundo movimento a impressão que eu tive é de estar em ambiente com tonalidade maior (por mais atonal que seja).

O 3ºmovimento me pareceu ser um inferno para o violoncelista (inferno no sentido de dificuldade técnica). O fim desse movimento, quando a celesta, a flauta e a percussão se juntam bem de leve, criando um efeito, que fez surgir em minha cabeça a imagem de crianças brincando de marchar (celesta e flauta = criança / batida militar da percussão=brincando de marcha). Esse é um dos motivos de eu ter gostado muito desse concerto, por mais contemporâneo e atonal que seja. Tem seus potos altos ;D

Outra coisa muito curiosa foi que no meio do 3º movimento eu senti melodias que me lembraram muito a cultura brasileira e folclore do nordeste! A utilização em parte daquela famosa melodia (do, mi, sol, sib, la, sol, sib....do, mi, sol, sib, la, sol, mi...etc), teve horas que pareceu mais Villa Lobos do que Hindemitch!

O cellista tem muita fluência e clareza quando toca. O que me chamou atenção também foram os seus vibratos muito bem "dosados". Eles não foram vibratos "cabritos" (vibratos cabritos, é o que eu chamo de vibrato que parece que a corda vai explodir de tão rapido e tenso que é, e conseqüentemente parece uma cabra fazendo "Béhehehe"). O vibrato do solista era muito lento e relaxado nos momentos calmos e rapido e não muito tenso nos momentos mais densos, que a meu ver...é como deve ser feito.

Achei curioso uma coisa: a afinação do cellista. Não sei se foi o instrumento que
tem um timbre um pouco diferente dos que eu estou acostumado a ouvir ou se foi o lugar onde eu estava, só sei que ele estava afinado, mas ao mesmo tempo, não estava totalmente...não sei explicar...principalmente nos agudos eu achei isso....bom...podem me chamar de louco...eu deixo..

Esse foi um dos únicos cellistas que eu já ouvi na Sala SP que consegue fazer um belo stacato e realmente "tocar" a nota, projetar a nota...É um stacatto um pouco mais "na corda", o que é ideal em grandes salas de concertos, para não embolar etc.. (isso no 3ºmovimento se não me engano)

No fim de todas as grandes frases o solista sempre tirava o arco do cello de uma maneira curiosa, que parecia que ele estava é tirando uma espada para lutar nas cruzadas, fiquei com medo é de ele acidentalmente acertar o spalla na cabeça...hahaha

Os glissandos no 2ºmov foram feitos com perfeição. (Principalmente na hora que é um glissando que vai para o agudo com um diminuendo...ele afinou muito bem!)

O bis foi a allemande da suite nº1 de Bach. Eu achei que foi muito bem conduzida, com poucos vibratos (bem característico), com trillos muito claros e precisos. O fim foi de arrepiar. Infelizmente eu só achei que faltou um pouco mais de "profundidade" e ligação entre a grande obra e o cellista. Não estou dizendo que não foi bem tocada, foi muito bem tocada, mas faltou algo.

A respeito da Sinfonia de Tchaikovsky
Em primeiro lugar quero parabenizar a OSESP e principalmente o maestro Fabio Mechetti. Eu não sou de ficar elogiando atoa, mas esse concerto dessa semana foi um dos melhores que eu já assisti, isso não foi pelo fato de apresentar obras grandiosas, e sim pois achei que o que eu ouvi hoje foi sublime e genial, digno de uma grande orquestra, e até de gravações internacionais.

Para começar, aquele tema do 1º movimento: Foi perfeito, muito bem trabalhado, a direção, o fraseado, parabéns aos clarinetes. As cordas, por menos "importante" que pareça nesse momento, fez uma coisa que eu fiquei muito satisfeito e um sorriso surgiu em meu rosto> diferenças de dinâmica que estão implícito nos acordes, e não na partitura. Por mais óbvio que pareça, poucas vezes eu ouço esse "cuidado" dos baixos de uma orquestra.

Outra coisa foram os pequenos acelerandos que senti no decorrer da obra, eles foram feitos muito discretamente, e me agradaram muito. Esse 1º movimento foi muuuito bem contraponteado. A única coisa que me irritou um pouquinho foi a tuba, me diz:o que custa frasear um pouquinho heim? as cordas e os sopros estavam tão musicais..Mechetti fez com a orquestra valorizasse as modulações do movimento (principalmente aquelas mais especiais quando muda de tonalidade maior para menor)

Em geral o 1ºmovimento foi o melhor e beirou a perfeição.

Aqueles acordes do começo do 2º movimento são como uma oração para mim. É a hora de abaixar a cabeça, agradecer a deus, e se arrepiar com o som da orquestra. Vou ser sincero, eu só não gosto muito da melodia da trompa, acho que acaba com todo o clima que esses acordes criaram (essa melodia além disso, me parece muito clichê, não sei explicar, nunca me chamou muita atenção). O trompista muito bem, só teve uma pequena "engasgadinha", mas nada que comprometesse o movimento.

No mesmo movimento, quando a orquestra está fazendo o tema principal, o oboé contrapõe fazendo um pequeno contratema secundário, o problema é que ele estava bem mais forte que as cordas.

A melodia do do 3º movimento, que é muito bonito, foi tocado de uma maneira extraordinária pelas cordas, pena que o oboé e o clarinete, fizeram a mesma melodia mas com uma intenção de frase totalmente diferente do da cordas. Não chegou a ser de maneira alguma feio, mas só acho que seria mais agradável a mesma intensão se repetir para dar uma sensação de continuidade e entrelaçamento de instrumentos muito bonito....

Existe uma passagem muito difícil para as cordas tocarem junto, é uma melodia muito rápida. Senti que faltou um pouco de precisão entre os 1º violinos, por sorte depois de alguns segundos eles conseguiram se encontrar.

No 4º movimento fiquei impressionado pois os metais foram muito musicais e os sopros, com exceção da flauta, não foram muito bem. O maestro pegou um tempo um pouco mais rápido do que eu imagino para esse final, mas ficou muito bom, super interessante.

Acho que esses detalhes que digo são coisas mínimas que não fazem muita diferença no decorrer da obra, são apenas pequenos detalhes que apenas acrescentariam à essa execução inesquecível que a OSESP nos proporcionou.

Espero que Fabio Mechetti volte a reger a osesp mais vezes, pois se os concertos que ele fizer continuarem desse nível, ele tem grandes chances de ser mais que apenas "regente convidado". Sei que é cedo para dizer isso e é necessário muito mais que apenas um concerto para realmente ter certeza de algo assim, mas de qualquer maneira, parabéns a todos e obrigado por essa magnífica interpretação da sinfonia.

Com certeza um belíssimo concerto que ficará marcado em minha memória.



Um abraço a todos,

John Blanch

Um comentário:

  1. Magnífica essa peça “Rienzi” de Wagner, com abertura em ré maior. É um equilíbrio perfeito entre delicadeza, tensão e triunfo! Mas se você se interessa realmente por música clássica, não deve perder de vista esse site http://cotonete.clix.pt/ que tem tudo quanto há para ouvir (barroca, medieval, contemporânea, romântica, etc.) Eu fiquei completamente rendido à diversidade da oferta do site, estou viciado! Essa foi uma sugestão de um amigo e não páro de divulgar. É realmente bom!

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