sexta-feira, 26 de junho de 2009

Temporada OSESP - (Falla/Bartók/Mendelssohn)


Victor Pablo Pérez regente
Nicolas Koeckert violino


Manuel De Falla - La Vida breve: Interlúdio e Dança
Béla Bartók - Concerto nº 2 para Violino
Felix Mendelssohn - Sinfonia nº 3 em lá menor, Op.56 – Escocesa



A escolha do programa dessa semana foi muito bem feita. Esses 3 compositores tem algo em comum: Todos eles tiveram muitas influencias de alguns eventos populares que ocorriam na época e também de culturas e folclores de alguns países. Vamos poder perceber a diferença entre a música do folclore (mais popular, presente no Bartok) e ao mesmo tempo da música clássica (folclore formalizado, presente no Falla e no Mendelssohn).

Para entender melhor tudo isso é legal separar a música, até o fim do sec. XIX e começo do sec.XX em 3 tipos:

Música Folclórica: A principal característica desse tipo de música é a reprodução e tradição oral, isto é, a música não era “formalizada” como a música clássica, é comum ao longo do tempo sofrerem alterações, os autores não se preocuparam em ser “autor” da melodia. Um exemplo disso é o famoso “ cai cai balão”, por mais que todos nós tenhamos nascido ouvindo essa música, não sabemos quem é o autor. A música folclórica influenciou muito compositores da música clássica, como Falla, Bach, Chopin, Brahms (folclore húngaro, espanhol, polonês etc...)

Música Clássica: É uma dinâmica totalmente diferente, muito mais formal que a música folclórica, nela o compositor se preocupa em deixar marcado que foi “sua autoria”. Cada dinâmica, nota, fraseado e ligadura que está na partitura é um mapa para que o interprete possa entender a mensagem que o compositor quis passar.

Música Popular: É um pouco mais “livre", e nos permite chamar de música um pouco mais “comercial”, voltado para o mercado. É mais popular e tem também influencia da música do folclore. É o caso do nosso conhecido “Samba.”

Comentário a respeito do concerto:
O concerto dessa semana sinceramente não foi dos melhores. Vou até exagerar e dizer que a noite foi salva pelo Mendelssohn...

Eu estava super empolgado em ouvir “La vida Breve” de Falla. Sempre me identifiquei muito com e a cultura e os compositores espanhóis (está no sangue, minha família inteira é de lá). Tanto é que já levei diversas vezes broncas da minha professora por “espanholar” algumas obras do repertório tradicional, e por sorte, no repertório Espanhol, é uma das poucas vezes que eu posso fazer, com muito gosto, esse “jingado” espanhol eloqüente.

Um dos desafios da obra, principalmente para orquestras que não estão acostumadas com a cultura espanhola, é conseguir fazer esse “jingado” bem característico. “La vida Breve” foi tocada bem, mas já no primeiro tema eu senti falta de alguma coisa, simplesmente as cordas não me convenceram. A orquestra parecia “mucha”, o que acho estranho, pois com uma música dessas, tão grandiosa e enérgica, faltou aquela sensação de me fazer sentir no meio de uma tourada e a cada acorde fortíssimo me dar vontade de gritar “oléé”...(comparação péssima, mas espero ter passado a idéia...)

Dos sopros, os únicos que tocaram Manuel de Falla do jeito bem característico, foram os clarinetes. Tanto a flauta, como o oboé tiveram uma execução “sem sal”. No momento em que entram as trompas e a percussão juntos foi genial!! Muito bonito!! As trompas não falharam nada e tiveram uma bela sonoridade.

Resumindo: A execução foi tímida, porém bonita. Infelizmente faltou algo fundamental, que daria o toque especial a música: “Maria Callear” um pouco mais! (ps: para quem não entendeu, tentei me referir a Maria Callas ;D)

PS: Eu usei esse termo não em relação ao estilo do canto, ou do jeito de cantar....e sim no sentido de Maria Callas ser conhecida por ter um caráter e temperamento forte, que fazia com que ela tivesse uma dramaticidade extrema na música, e discussões e atos que faziam repercussões escandalosas na mídia.
De certa maneira pode-se até chamar de um jeito "esparafatoso", digamos assim...
Em geral faltou um temperamento diferente no De Falla da Osesp...algo mais "picante" e com mais caráter na música....

PS:Essa expressão já ouvi algumas vezes...rs...normalmente utilizada de forma irônica...por exemplo: "oooolha a maria callas ai de novo....isso é chopin, garoto!


O concerto de violino de Bartók por si só, já é uma peça muito difícil de ser compreendida e apreciada. Sinceramente, não fiquei muito contente quando soube que Kolja Blacher seria substituído por Nicolas Koeckert, pois assisti um concerto de Koeckert ano passado, executando o poema de Chausson e me lembro claramente de me sentir incomodado pela sua execução muito fria e a falta de direção de frase. (O meu medo era exatamente o de acontecer novamente isso no concerto de Bartok.)

PS: Sei que não tem nada haver com música, mas preciso comentar uma coisa que achei engraçada: Nicolas Koeckert é tão grande que o seu violino parecia pequeno e o maestro, mesmo regendo sobre o palanque, conseguia ser menor que ele! rs..mas voltando ao que interessa...

Hoje em dia, antes de ir nos concertos, faço questão de não ouvir outras gravações importantes para não me influenciarem. Apenas ouço as gravações após o concerto para poder realmente ter parâmetros e argumentos plausíveis.
Não gostei da interpretação deste Bartok, mas para não me apedrejarem vou começar dizendo as qualidades que pude perceber:

O concerto de Bartok é extremamente difícil para o solista e Koeckert começou muito bem o 1º movimento, estava super afinado e parecia executar o concerto com certa “facilidade”. Ele mostrou ser virtuoso e possuir uma boa técnica. Gostei da sua cadência (acordes afinados e com uma polifonia clara e evidente) e mesmo que tenha faltado um pouco de emoção foi bonito. As oitavas do terceiro movimentos foram impecáveis e os glissandos muito bem executados.

Infelizmente sempre digo que virtuosidade não é nada sem ser colocada no “eixo”. Estou ciente que ele ganhou o concurso Tchaikovsky em 2002 e até cheguei a ver os seus vídeos na internet (gostei tanto da sonata de Beethoven quanto do concerto de sibelius). É uma pena que ele foi infeliz tanto na execução do Chausson ano passadno, quanto na execução do Bartok essa semana. (sei que é arriscado eu dizer isso, mas é minha opinião...)

Nas primeiras frases do concerto, o seu vibrato feito sem “propósito especifico”, exagerado e em excesso, não me irritou muito, porém depois de algum tempo comecei a ficar muito incomodado com isso. A todo o momento ele usava o vibrato “cabrito”. Onde mais me irritou foi quando a orquestra faz o pianíssimo e o ambiente fica tranqüilo e ao mesmo tempo um suspense (é o momento em que o vibrato cabrito menos combina, pois ele acaba poluindo a música, e esse momento “puro”, “angelical” e calmo é contaminado por um som tenso exagerado.)

O seu detache também me incomodou, pois soou muito”socado" e “seco”. O que fez perder toda a continuidade da musica foi a falta de direção e os acentos no meio das frases (que não tinham o menor sentido, isso pode ser percebido no tema do segundo movimento, que foi extremamente picotado).

A sensação que tive foi de que o violinista não sabia direito o que fazia e simplesmente tocava as notas. É como recitar um poema sem saber o seu significado. No intervalo, sai da sala com uma sensação de "vazio" e senti como se o concerto não tivesse tido nenhum significado...

Outra coisa que achei que foi desnecessário foi a imensa pausa entre os movimentos (afinar, secar o suor, afinar, secar suor, esperar o coral de tuberculosos da plateia parar de tossir etc..), que fez perder um pouco a atmosfera criada e quebrou ainda mais a continuidade e uniformidade da música.

Volto a destacar: Ele fez coisas bonitas? sim...mas não chegaram a compensar o que citei acima.

A orquestra se saiu muito bem e fez ótimos efeitos sonoros! (Em especial o momento da celesta, clarinete e com algumas cordas). Quem me impressionou no 1º movimento foi o oboé, que fez lindas frases e um maravilhoso vibrato. (que deveria ser seguido de exemplo pelo violinista). Em geral a orquestra não encobriu o solista e as frases, por mais atonais que fossem, tinham direção.

O 3º movimento é dificílimo (tanto para a orquestra quando para o solista) e é legal notar os tempos “quebrados” desse movimento. Ele foi executado com uma ótima “intensão” e "caráter", mas infelizmente o contraponto entre o solista e os sopros foi totalmente contraditório (cada um fazia a frase com idéias diferentes, sem combinar, causando uma pequena descontinuidade).

De qualquer maneira, devo parabéns as trompas que foram super bem e a orquestra em geral, que fez uma musica contemporânea muito boa, sem ser “a la humore” (como o solista fez), senti que foi algo pensado e trabalhado.

(PS: A la humore, eu chamo a música que sua dinâmica e execução varia muito, dependendo do humor do interprete.A dinâmica do solista, neste caso, foi um sorteio e muitas vezes ficamos perdidos na obra pois ela fica monótona e sem direção)

Interessante que o final parece uma dança camponesa quando existe a parte mais rítmica no violino. Outra coisa interessante é que na parte onde os metais fazem algo que me lembram cornetas tocando no castelo (nobreza) e o violino parece contrapor com a realidade vivida pelos camponeses e anatureza. A minha parte favorita continua sendo os momentos em que a harpa aparece, criando esse ambiente bem tranqüilo e campestre.

A Sinfonia Escocesa de Mendelssohn foi sem duvidas o melhor da noite. É incrível como as violas conseguiram ser expressivas no 1º movimento, com um som aveludado especial característico do instrumento (expressivo graças ao oboé também, que fez belas frases, dando consistência à viola) Ao decorrer do 1º movimento as suspensões foram muito bem feitas, as trompas novamente foram muito bem. As idéias do maestro em relação a obra foram muito claras, mas talvez se as frases fossem um pouco mais musicais ficaria melhor ainda..

Acho que entendi porque Richard Wagner gostou tanto dessa sinfonia: ela consegue ser ao mesmo tempo extremamente "clássica" e também grandiosa, melódica, dramática, enérgica e romântica. (Nota-se uma grande influencia de Beethoven)

Sem duvidas o 2º movimento é o mais conhecido de todos eles. O tempo escolhido pelo maestro foi ideal e os sopros demonstraram que são fantásticos!
O tema feito pelo clarinete foi maravilhoso! O mesmo tema, tocado em outra tonalidade pelo oboé, também foi executado com muito bom gosto. O final da música o clarinete fez um pianíssimo incrível!E novamente, parabéns para as trompas, que fizeram a passagem difícil (mesmo tema) com precisão...

O 3º movimento é extremamente imperial e imponente, talvez pudesse ser um pouco mais expressivo. (Principalmente o tema enérgico bem rítmico "semínima - colcheia pontuada e semicolcheia - semínima - colcheia pontuada e semicolcheia etc...poderia fazer algo diferente aí)Os pianíssimos foram bonitos, mas também faltou algo. O final foi melhor e a parte em que os cellos e as trompas fazem uníssono foi ótima, é curioso que o timbre dos dois instrumentos, nesse momento, ficaram muito parecidos!

No 4º movimento novamente o oboé fez lindos fraseados mas senti que o movimento talvez tenha ficado "rítmico" demais...com muitos acentos. De qualquer maneira foi bonito, pois a música é maravilhosa. O tema em que a flauta e a orquestra "conversam" foi muito bom pois eles tiveram a mesma idéia melódica, o que me deixou muito satisfeito! A fuga desse movimento e o seu acelerando também me deixou extasiado!! Ahh! Lindo! Não posso deixar de comentar também do fagote, que no fim teve um ótimo contraponto com o clarinete.

Não sei se vocês repararam também, mas fiquei impressionado pois tínhamos 7 contrabaixos!!É muito não? Outra coisa foi o trompete utilizado que não foi o convencional (de pistão), foi utilizado o trompete de rotor, que a sonoridade é muito mais "aveludada" e me lembra muito instrumentos de época...
Em geral gostei muito da sinfonia. Uma pena que só pude ir assistir na quinta feira...com certeza nos outros dias só melhorou!!!


Um abraço a todos,

John Blanch

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