sexta-feira, 26 de junho de 2009

Nova Visão - Bela Bartók e Concerto para Violino n.2


--BELA BARTÓK--
Bela Bartok nasceu em 1881 na Hungria (hoje, cidade da Romênia), como seu pai era diretor de uma escola de agricultura, ele sempre conviveu muito com essa cultura “rural”. Ele viveu em uma época muito conturbada (entre as 2 guerras mundiais que devastaram o mundo ocidental). Quando o Nazismo começou a crescer, um fato importante, ocorrido em 1939, deve ser destacado:



Quando o ministro da educação popular e propaganda Nazista, chamado Goebbels, organizou uma exposição de “Música degenerada” (aquela mesma que comentei quando falava de Hindemitch sobre o concerto da semana passada) incluindo nomes como Stravinsky, Shönberg e Milhaud, imediatamente Bartok pediu para que seu nome e música fizesse parte desse grupo, como forma de “protesto” contra o ocorrido. Ele até pensou em converter-se a religião judaica como forma de desabafo e ficar ao lado dos perseguidos. Podemos ver aqui que Bartok ignorava os perigos e riscos que corria e apenas se preocupava com o patriotismo e lealdade igual ao amor que ele sentia pela humanidade.

Sua mãe e tia sempre incentivaram esse nacionalismo do compositor. Elas sempre pediam que só utilizasse o idioma estrangeiro quando fosse “absolutamente obrigatório”, e devido ao nazismo, era proibido utilizar a língua alemã.

Quando eu ouço falar de Bartok, vem direto em minha cabeça “música folclórica”. Ele foi o compositor nacionalista húngaro mais respeitado de todos os tempos. Desde jovem, ele visitava lugares no interior da Hungria e da Romênia em busca de inspiração para a sua música. Ele levava um “gravador”, para poder ter o som “puro” do povo rural. Ele ficava intrigado com essas melodias rurais e a partir de 1905 passou a fazer extensas pesquisas para descobrir esse novo "universo". A sua obra então, tem uma expressividade única. Ele reproduzia o folclore do jeito mais “puro” possível.

O curioso é que essas músicas folclóricas eram extremamente diferentes da música clássica cultivada até então, principalmente o “tempo” da música. Por exemplo, Nossos ouvidos estão "acostumados" a ouvir músicas que tenham um tempo coerente simples: 2 frases de 4 compassos cada, que somam no total 8.
Muitas vezes as músicas folclóricas de lá tinham também 2 frases que somavam 8 compassos, mas uma era de 3 compassos e outra era de 5. A sensação que se tem, é de pequena instabilidade.

Muitos compositores que se inspiravam em música folclórica acabavam por "formalizar" ou "classificar" (no sentido de “catequizar” a música folclórica em algo mais clássico) as músicas, isto é, fazendo com que esses tempos de 3 + 5 compassos se tornem 4 + 4 compassos. Bela Bartok deixava essas melodias as mais originais possíveis.

Uma de suas obras mais famosas é a ópera “O castelo do Barba Azul”, que ganhou premio de melhor peça lírica. O concerto para violino n.2 foi dedicado a Zoltán Székely e vou falar mais disso adiante.

Em 1940 resolve ir para EUA devido ao nazismo e o fascismo que se instalou no poder de seu país. Ele continuou a compor até o fim da sua vida. Diferente de Hindemitch, ele não era tão aclamado pelo público. Ele passou por dificuldades financeiras e recebeu ajuda de alguns que apreciavam suas obras (através de doações, encomendas de obras, etc...). Mesmo com essas ajudas Bela Bartok morreu em 26 de Setembro de 1945 com uma situação financeira ruim. Ainda levou um tempo para que o mundo visse em Bartok a sua genialidade. Hoje em dia ele é um dos mais influentes e importantes gênios musicais da primeira metade do século.

É legal destacar que Bartok tem uma expressão musical única bem especial, com textura sofisticada da modernidade e o mais importante de tudo é que era muito "original" no que fazia, ele não era "cópia" de outros compositores pois ele utilizava a técnica existente e adaptava para ele mesmo, da maneira que ele achava melhor.

É interessante reparar que a música do Sec XIX (Liszt, Chopin, Dvorak, Brahms, Grieg) manifesta o folclore dos países de origem. No caso do Chopin o folclore polonês, no caso de Brahms o folclore húngaro nas danças húngaras, no caso de Grieg o folclore norueguês etc...
PS: A grande diferença entre esses compositores e Bartok é que os compositores citados acima acabavam por “absorver” o folclore e “adequá-lo” e “educá-lo” para a música clássica.
Bartok 3 +5 = 3+5. Para outros 3+5 = 4 + 4. (para quem não entendeu nada aconselho a ler o comentário acima sobre o Bartok que fiz que vai entender, ou no mínimo espero...)


--CONCERTO PARA VIOLINO N.2--
Esse concerto de violino foi encomendado em 1936 por Zoltan Shakin , que era um jovem violinista virtuoso húngaro. Todos, até meados do sec.XX acreditavam que este era o único concerto de violino existente, e por muito tempo ele era chamado apenas de concerto em Si menor, mas na verdade Bartok já tinha criado um concerto para violino em 1906 que só foi realmente conhecido tardiamente.

O 1º Concerto para violino foi uma produção mais expressionista (Uma música com elementos exagerados, que pode ser considerada até mesmo uma distorção do romantismo tardio, onde os compositores despejavam na música toda as suas emoções mais intensas e profundas).

Desde o concerto n.1, composto em 1906, até o concerto n.2, composto em 1936, muitos anos se passaram e muita coisa mudou. Nesse meio tempo, houve a estréia da Sagração da Primavera de Stravinsky, o Dodecafonismo de Shoenberg, a criação dos 2 concertos para piano e a ópera Barba Azul de Bartok etc...
Como fazia mais de 30 anos que Bartok não escrevia um concerto para o violino, ele pediu diversas gravações de concertos de violino da época para poder “se atualizar” (na ocasião lhe foi enviado o concerto de Alban Berg).

Os primeiros acordes do concerto n.2 criam uma atmosfera bem pastoral , um ambiente rural húngaro. Ele utiliza a serie de 12 sons de Shoenberg de uma maneira muito pessoal para criar o tema, mas o faz sem reproduzir o dodecafonismo.

Desde o começo Bartok queria fazer o 1ºtema com variações, pois era fascinado com essa técnica, mas o violinista que encomendou a obra pede que Bartok faça uma peça que se refira ao cânone. O 2ºmovimento do concerto pode, de certa maneira, ser considerado como tema e variação em Sol menor.

O concerto extremamente difícil para o violinista, essa foi a maneira que Bartok encontrou para homenagear o jovem virtuoso, que foi responsável por fazer com que Bartok retornasse a compor concerto de violino.
Esse concerto é uma das obras mais importantes do repertório violinístico da época e serviu de influencia para os compositores pós guerra mundial.

MAIS SOBRE BARTÓK:

Bartók e o Concerto para Viola Op.postumum

Um abraço a todos,

John Blanch

Nenhum comentário:

Postar um comentário