terça-feira, 16 de março de 2010

Quando o piano não soa como um piano...

Michel Dalberto
Há poucos dias, assisti a um recital do pianista francês Michel Dalberto no Teatro de Champs-Elysées. Esta sala de concertos é uma das mais importantes de Paris, recebendo nos últimos 90 anos os artistas mais prestigiados do mundo da música, da ópera e da dança.



O perigo de fazer um recital solo de piano em grandes salas de concerto, é sempre o de não conseguir tirar o som suficiente para preencher toda a sala. Apesar do piano ser um instrumento extremamente grandioso por sua natureza, dependendo por quem ele é tocado, ele pode tornar-se um instrumento tímido e miúdo.

O que mais me marcou nesse concerto de Michel Dalberto foi a nova maneira de encarar uma obra. Isto é, ele fez um Wagner e Liszt com uma personalidade e vigor extremamente convincente. Com suas mãos, o som que saía do piano soava, de certa maneira, diferente. O contraponto extremamente bem trabalhado fez com que surgisse pouco a pouco em minha cabeça, a conversa entre os diversos instrumentos de uma orquestra.

Apesar de não ser nenhum fã do op.111 do Schumann que foi tocado na primeira parte, fiquei praticamente hipnotizado pela Sonata de Liszt em Sí m na segunda parte. O caráter geral da sonata e principalmente os momentos mais intensos da obra conseguiram me deixar extasiado, com meu coração acelerado e com um sentimento que não consigo descrever. Os "fortíssimos" preenchiam toda a sala, o "timming" era o ideal e em boa parte da obra, os cantabiles foram bem projetados.

Quando o piano não soa como um piano e sim como uma orquestra, é quando ele é tocado por um verdadeiro músico e não por um mero pianista.

Abraço a todos,

John Blanch
(Twitter / Formspring / Site / Email)

4 comentários:

  1. Olá John,
    cada vez que leio os seus comentários,volto ao seu perfil e,cada vez mais,fico convencido de sua magistral capacitade de dizer o necessário,com total qualificação e sensibilidade.Até eu,um leigo,consigo compreender as suas análises,carregadas de significados que resultam de sua bela trajetória.Parabéns,sempre.Imagine!!Tudo isso,aos 17 anos.José Raimundo
    consigo compreender as suas análise.Evidentemente,

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  2. Olá, John!
    Seu blog é mesmo excelente!
    Gostei muito desta matéria e também sou um fã do som "orquestral" que pode ser extraído de um bom piano, por um intérprete inspirado.
    Sempre fiquei meio decepcionado com o som pasteurizado de alguns pianistas oriundos da escola vienense que se apresentavam regularmente no Rio de Janeiro (e tinham lá as suas gravações meio burocráticas).
    Aqui no Brasil é muito difícil o acesso pleno à cultura, para os que não nasceram em berço de ouro.
    Mas quem quer, corre atrás; e foi o que eu fiz.
    Achava que o único pianista de sonoridade orquestral era o Horowitz, mas com o tempo fui descobrindo as gravações antigas dos mestres do início do séc XX. Tive sorte de também assistir a alguns prodígios da sonoridade, na Sala Cecília Meirelles e no Teatro Municipal.
    Acho que a Era dos burocratas datilógrafos já ficou para trás.
    E tomara que não volte.

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  3. Nunca se pode assemelhar um piano de uma orquestra, um piano é um piano, e isso já o faz brilhante :)

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