quarta-feira, 21 de abril de 2010

A "última música" triunfará?

Friedrich Nietzsche
Queridos leitores, as pesquisas para a análise de Strauss está realmente mexendo com a minha cabeça. Para entender melhor a obra, comecei a ler "Zaratustra" de Nietzsche e tive uma imensa vontade de fazer um post relacionando o discurso de Zaratustra à realidade da música clássica. Neste post tentarei ser breve explicando minhas idéias de forma clara e concisa. [...]

Bem no começo do primeiro livro da "saga", Zaratustra faz um discurso incrível tentando mostrar ao povo duas visões do ser humano. Essas duas visões mostram dois tipos de humanos (extremamente contrastantes). O "supra-homem", que é considerado como alguém superior, capaz de colocar-se acima dos outros e criar seus próprios valores e o "último homem", que é considerado um tolo que sempre está feliz com a realidade e acaba obedecendo a rotina e sempre "seguindo o rebanho". (Nenhum desses dois extremos me agrada e para deixar claro, estou consciente que o nazismo pegou como base as idéias do supra-homem, mas como já disse....nenhum dos dois extremos é o ideal...enfim...não é isso que quero discutir...)

Na semana passada postei entrevistas feitas com três grandes pianistas da atualidade. Em certo momento da entrevista, Ivo Pogorelich comentou que a "busca" constante é a responsável pela aproximação do absoluto e Martha Argerich falou que o verdadeiro artista é aquele que sempre está em "busca" do belo...

A "busca constante" é capaz de fazer o tolo tornar-se um sábio, certo?
Bom...o que isso tem a ver com música?

A tecnologia nas últimas décadas, a meu ver, fez o mundo da música caminhar para trás...e muito...É só levarmos em conta a evolução das composições, o número de verdadeiros gênios desse século ou até mesmo o legado de pianistas da atualidade. Será que hoje em dia existe alguém capaz de dar continuidade à essa quase extinta geração de grandes pianistas como Horowitz, Nelson Freire, Maria João Pires ou Martha Argerich, por exemplo?

Que tal Evgueni Kissin? (um pianista que se recusa a falar sobre Beethoven pois "não faz análise desse gênero...") Lang Lang talvez ? (um pianista que inventa de tocar um estudo de chopin com uma laranja...)

Para que gastar horas em busca do verdadeiro significado da partitura se tudo já está escrito e analisado? Para que gastar horas em busca da exata intenção do compositor em cada nota se podemos ouvir em gravações todas as respostas? Para que gastar horas buscando algo novo e original se ninguém dá o devido valor? É fácil...vamos seguir o rebanho de gravações e tornar-nos plateomintos clonados tocadores de instrumento!

A realidade as vezes?
Uma dolorosa vergonha...

A perfeição?
Uma busca constante...

Tenho certeza que uma grande parte dos músicos acabam tornando-se "últimos homens" e seguindo conscientemente ou inconscientemente essa linha de pensamento. Vamos tentar reverter isso! Sei que isso é um trabalho infinito pois quanto mais nos aproximamos do absoluto mais ele se afasta, mas as vezes é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.

Abraço a todos

John Blanch
(Twitter / Formspring / Site / Email)

15 comentários:

  1. "Assim falou John Blanch"

    Belas palavras, infelizmente poucos pensam assim...

    As facilidades da modernidade tem criado homens cada vez mais vazios.

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  2. Talvez os jovens tenham cada vez menos tempo para isso, computador,vídeo games, smart phones, twiter, Facebook , tudo com linguagem rápida .... Onde não precisa pensar muito.
    O mundo está muito rápido e parece que quem não se junta a ele está fora...
    Me alegra muito ver que ainda tem jovens com sua filosofia de vida.
    Parabéns John

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  3. A URSS perdeu e o mundo virou fast-food em todos os âmbitos. Só uma catástrofe mundial para reverter isso.

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  4. gostei, mas já te ocorreu de achar que "o cara que toca com a laranja" não tava procurando sair da mesmice do "último homem", da ideia de que os pianistas (não ao meu ver) façam sempre as mesmas coisas e estejam girando sempre em torno dos mesmos assuntos? vá lá que deturpa o real sentido da música, do sentido das notas, do sentimento de tudo, mas é novidade, ele foge à regra, ao lugar-comum.

    mas concordo contigo, se houvesse o equilíbrio entre esses dois homens, o progresso seria feito de uma forma mais... sutil, talvez. (:

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  5. Acredito sinceramente que a "sacralização" que normalmente criamos ao redor das obras dos mestres do passado não deveria ocorrer.
    A análise, em minha visão não é simplesmente uma ferramenta formal, ela serve pra lhe dar subsídios pra que você entenda a obra, e a partir do seu entendimento de a sua interpretação. As vezes me parece que "interpretar" no meio musical, é pegar algo analisar formalmente e tocar exatamente aquilo que se analisou. Ou seja, você interpreta a análise. Ao meu ver esse processo deveria ser mais pessoal... Aí sim existiria algo mais próximo do sentido que a palavra nos oferece.

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  6. O mundo passa por um processo de "imbecilização", as pessoas estão ficando mais tapadas, mais preguiçosas, mais passivas, menos críticas e menos questionadoras. E isso, de uns dez anos pra cá, tem crescido assustadoramente...

    Parabéns John!

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  7. Essa discussão é interessante, mas discordo que a tecnologia seja a culpada. Ao meu ver, a música de concerto (ou como quer que queira chamar) se encontra numa estagnação quase total. E acho que nisso pesa muito o fato de praticamente só se tocar música antiga (por antiga quero dizer Séc. XVIII, XIX e início do XX). Os cânones foram criados, e o meio da música de concerto se encontra tão viciado, que só interessa a perpetuação desses mesmos cânones. E por cânones não estou me referindo apenas a obras, mas também a interpretações específicas.

    A tecnologia propicia um acesso a cultura praticamente ilimitado, este acesso a princípio é benéfico, um estudante interessado de hoje provavelmente conhece mais música do que um professor experiente de 20 anos atrás. Só que num meio em que o que vale é a repetição, a tecnologia ao invés de estimular a diversidade, e a procura por uma identidade própria, acaba servindo como facilitadora para quem quer achar um molde bem sucedido para copiar. Por exemplo, a internet te possibilita encontrar umas vinte ou trinta interpretações diferentes das sonatas de Beethoven, só que ao invés disso servir para mostrar como a diversidade é possível, e até mesmo vital, uma cabeça moldada para a repetição, vai apenas escolher qual ele quer copiar.

    A cultura da idolatria aos cânones torna impossível a aceitação do diferente. Do mesmo modo que não dá para se gostar de Boulez ou Ligeti quando se espera ouvir Schumann, também fica difícil se apreciar uma concepção diferente de uma sinfonia de Beethoven quando se tem como definitiva a interpretação do Karajan ou qualquer outro que se prefira. A maioria das pessoas no meio musical (e caso ainda não esteja claro estou me referindo ao meio inteiro mesmo, músicos, compositores, público, críticos, conservatórios, universidades, etc., todos temos culpa no cartório) age como se os padrões já estivessem definidos, e qualquer coisa diferente do já aceito é errado, ou de baixa qualidade, ou simplesmente não merece atenção, pois não faz parte das coisas que já (re)conhecemos como de valor.

    Tudo isso que estou falando tem a ver com esse lance da sacralização que o Azrael falou antes, e é um problema já bem antigo. E, infelizmente, eu não vejo uma saída próxima. Pois nem os "repetidores" espalhados pelas orquestras e teatros aí afora, nem os novos compositores enfurnados nas universidades, que cada vez mais se tornam verdadeiros guetos, dão sinais de que isso um dia vá passar.

    desculpem pelo testamento, mas é que o assunto é longo e polêmico.

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  8. Davi,muito bom seu ponto de vista e muito esclarecedor, realmente os repetidores se encontram em todo lugar em todas as áreas, na moda, na estética, na decoração...não sei se por facilidade ou por medo de fugir do comum e ser apontado pelos outros como bicho estranho.

    Espero de coração que suas previsões estejam erradas e que possamos reverter esta situação em pouco tempo ....quem sabe a midia não se encarrega disso...quem sabe jovens como o John e outros tantos parecidos com ele espalhados pelo mundo não começam a mudar éste panorama.

    Vamos torcer !

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  9. Desculpe John, mas não foi a tecnologia que fêz a musica erudita e lírica, caminhar para trás.

    Tanto os concertos como as óperas nunca foram tão executados e seus Lp's CD'S e DVD'S vendidos sejam em coleções, sejam no varejo.

    O teatro e o cinema tiveram grandes transformações quando absorveram as grandes orquestras, os bailarinos, e os cantores em notáveis apresentações cinematográficas que tentaram induzir o público a continuar a prestigiar e porque não dizer consumir a Música Clássica.(vide the ten commanders " Os dez mandamentos", o Mágico de Oz, Amadeus, Guerra nas Estrelas, Austrália, etc).

    Mas a industria discográfica quer lucros imediatos, não quer a formação do ouvido, a separação do bom e do médio cantor ou do intérprete, ou ainda, solista e maestro.

    Lucros em massa vão na contramão da cultura.
    O consumismo desenfreado, impede a análise deixando passar o burlesco.

    Temos que combater as políticas neoliberais que se adotam no mundo, pois há gente que acha mais interessante ter uma orquestra virtual a uma original, ou apenas cibernética, mesmo que essas técnicas só podem ser aplicadas por um ser humano, este é substituível sem avaliar-se seus conhecimentos.

    Outra coisa, foi a igreja que impediu, castrou as mulheres impedindo-as desde a inquisição até praticamente o inicio do século XX de produzirem cultura. Toda mulher que pensava, era tida como bruxa, perigosa e mandavam pra fogueira. No teatro, na ópera, ou no coro das igrejas eram usados crianças as quais para manter o tom agudo feminino muitos foram castrados.

    As guerras mundiais, criaram uma ruptura no desenvolvimento da musica em si, ela foi influenciada pelos desejos militares, pelo poder de conquistar as massas populares no alistamento e alienação.

    Está aí então o grande abismo Strauss com Zaratrusta e nem vinte anos depois a música dodecafônica e suas variantes, qual público pode acompanhar tal repertório? Disney introduziu no desenho Fantasia, Igor Stravisky, Mussorvsky, Paul Dukas mas eram as digeríveis para o público em geral.

    Você é o solista e a talvez até compositor tem uma Grande Missão pela frente, dar a volta por cima!

    Forte Bravo!!!

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  10. em tempo.:

    Voce deve saber que a indústria discográfica ao perceber que havia uma lacuna na produção de musica erudita, contratou orquestras secundárias de cidades tchecas ou polonesas e até solistas para produzir todo um grande repertório de CD's imagine eu tenho toda o Cravo bem temperado de Bach, tocado por um solista polones, será que ele era o bom? mas só tinha ele no mercado.

    é bom pensarmos sobre isso também!

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  11. Não entendi direito a que você se referiu quando disse que a tecnologia está fazendo a musica regredir. Tecnlogia musical ou tecnologia em geral? Concordo que a tecnologia em geral (internet e etc) distraia as pessoas, mas a tecnologia musical tem evoluido bastante nos últimos anos. As possibilidades de manipulação do som disponíveis são quase inacreditáveis hoje. Ouça "Storm!" e "Being Dufay" do Ambrose Field...
    Abraço!

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  12. Queridos leitores,
    Obrigado mesmo pelos comentários. Acho muito interessante discutirmos o assunto.
    Como quis ser breve, talvez eu não tenha sido claro com o que quis dizer.

    Concordo plenamente que a tecnologia dos dias de hoje nos proporcionam uma vasta possibilidade de aprendizado e principalmente quando se trata de música clássica. A internet, as gravações, os livros em pdf, as partituras em pdf me ajudaram bastante no meu aprendizado e principalmente em minhas pesquisas para todas as matérias.
    O problema de tudo isso é que com o universo da internet e da tecnologia, o mundo parece tornar-se cada vez menor e o tempo parece passar cada vez mais rápido. Consequentemente, muitas vezes, somos vítimas da tecnologia e somos obrigados a fazer uma tonelada de coisas rapidamente, porém, muitas vezes, elas acabem sendo superficiais. O mundo hoje em dia nos cobra essa facilidade de informação e cabe a nós mesmos de correr atrás do prejuízo.
    Um outro exemplo que também acho negativo, é que as gravações de hoje em dia estão tornando-se cada vez mais superficiais. Isto é, hoje em dia, os estúdios de gravações parecem fazer praticamente uma cirugia quando se trata de gravação...são retalhos, cortes, fades, efeitos de som, um "photoshop auditivo" grotesco e muitas vezes faz acaba com a magia da música.

    É isso que quis dizer quando isse que a tecnologia fez com que a música caminhar para tras.

    Espero que tenham entendido meu ponto de vista.

    Abraço a todos,
    J.B

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  13. Seu Blog é simplesmente excelente! Já está na minha barra de favoritos! Bom trabalho e boa sorte para você

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  14. Esqueci de comentar: os recortes e edições em estúdio são um mal bem antigo. Piores exemplos: Horowitz e Gould. As gravações piratas de recitais do Horowitz, que circulam na internet, despertam muito mais interesse e admiração naqueles que de fato amam a música, por mostrarem o que realmente ocorreu no evento em questão. Quando ouço uma gravação destas, tenho a nítida sensação de estar sendo restituído de algo que, anteriormente, me havia sido subtraído por imposição da mídia ou da personalidade do intérprete. Em resumo: mesmo que sejam de baixa qualidade, estas gravações restauram o discurso original, o mood da interpretação, naquele determinado momento. Elas fazem muito mais sentido, musicalmente falando.
    Infelizmente, nem todo amante de música aceita as imperfeições destas gravações, assim como não aceitam o trabalho de resgate que vem sendo feito de registros históricos do início do séc XX.
    Isto é de se lamentar: que a "pureza" do som digital sobrepuje o valor artístico de um registro "obsoleto", mas de de grande valor estético...

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  15. é tudo uma questaõ de cultura e abertura de espaço, e até formação de publico.Nada disso existe nos lugares onde mais habitados, então a pobre cultura que teria que ser forte ,fica fraquinha e adoece, deixando espaço para o ruim. Tecnologia bem direcionada fará grande diferença.

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