domingo, 14 de junho de 2009

Temporada OSESP - (Gubaidulina/Haydn)


Alexander Mickelthwate regente
Horácio Schaefer viola
Peter Pas viola

Sofia Gubaidulina - Two Paths
Joseph Haydn - Sinfonia nº 26 em ré menor - Lamentação
Sofia Gubaidulina - Stimmen... verstummen...




O concerto dessa semana promete! Duas obras extremamente contrastantes e uma delas com grandes solos de viola! Sim! Viola! hahaha


Opinião pós concerto de Quinta feira:

Eu acabei de chegar do concerto e por mais incrível que pareça, sai satisfeito!! Sim, eu (um "não-fã" da música atonal) sai contente do concerto!!Milagre!! hahaha
Lógico que antes de entrar na sala preparei meu ouvido e me preparei psicologicamente, ouvindo o pacific 231 de Honneger e a chaconne de John Corigliano! Pelo jeito ajudou!! =]

A escolha do programa foi um pouco curiosa e mexeu com os extremos da música clássica. Por um lado tivemos a Sinfonia de Haydn, tocada de uma maneira bem "barroca" (depois explico melhor) e uma música de Sofia Guabaidulina totalmente atonal e moderna! Assim como Mauricio, não sou a favor dessa escolha de repertório feito simultaneamente, ele realmente “quebra” com a mensagem que a música contemporânea nos trás e vice e versa.

Bom, vamos lá:

A primeira música de sofia guabaidulina foi um pequeno choque para mim, mas como estava de "alma aberta" para curtir o concerto, apreciei os efeitos sonoros que a música proporcionou. Peter e Horacio foram muito musicais e afinados. (adorei o vibrato dos dois) e parabéns principalmente a Horácio (pois fazer aqueles agudíssimos afinados na viola não é fácil....). Mesmo gostando dos efeitos, achei a música repetitiva demais.
Não sei se já estou ficando com alzheimer, mas prefiro falar mais detalhadamente da ultima música de Guabaidulina pois, sinceramente, não me vem nada específico na cabeça sobre a primeira obra.

Depois que colocaram o cravo no palco, tivemos a Sinfonia de Haydn. Em geral, eu achei que a orquestra estava muito precisa e com uma ótima sonoridade. A sinfonia foi tocada com um “ar barroco”, digamos assim...gosto desse tipo de interpretação também, mas foi uma pena que o tema principal do 1º movimento tenha saído um pouco "quadrado", de qualquer forma, acredito que essa tenha sido a intenção do maestro. A meu ver, existem dois tipos de execução das obras do período clássico:

-EXECUÇÃO TRADICIONAL um pouco mais "barroca" (barroco não em sentido de música ornamentada, e sim no sentido de poucas diferenças de dinâmica: quando é forte é forte, quando é piano é piano...são poucas “variações” de dinâmica )

-EXECUÇÃO MODERNA um pouco mais “musical”. O maestro explora uma maior diferença de dinâmicas, uma maior expressão das frases. Uma agógica maravilhosa para a obra.
Não existem maneira certa ou errada, isso depende do gosto de cada um...(eu prefiro um clássico mais musical)...contanto que a música seja tocada com os mesmos princípios, e sem os pecados “mozartianos”, quer dizer “haydianos”, não há problema nenhum.

O 2º movimento é um pouco complicado de executar, pois com ele tem uma harmonia que se repete muitas vezes, e as cordas tocam uma melodia com forma de “improviso” sobre essa harmonia semelhante. É difícil conseguir fazer com que não fique monótona (não estou, de maneira alguma, criticando o 2º movimento em si, acho ele muito bonito. Monótono é ouvir as músicas de rock da radio hoje em dia que só usam 2 acordes: Tonica, dominante, Tonica, dominante, Tonica, dominante....enche o saco! ahahah) Voltando>>> eu só acho que esse movimento, quer dizer...toda a obra do período do classicismo, principalmente de andamento lento, parece muito fácil, mas na verdade, é uma das coisas mais difíceis que existem para fazer bem feito...)

A orquestra se saiu bem nesse 2º mov, mas uma coisa que me incomodou, foram as notas repetidas em todo o movimento e a direção, que poderiam ser um pouco mais trabalhadas e exploradas (isto é: fazer com que as 4 notas repetidas tenham uma sutil diferença uma da outra), isto ajuda (e muito), a tornar a música mais fluída.

O 3º movimento eu achei fantástico! Além de ter sido muito bem trabalhado, o “touche” das cordas, muito enérgico e preciso, criou um som muito característico de Haydn. A “execução tradicional”, neste movimento, caiu como uma luva, esse 3º movimento “pede” esse tipo de execução. Ficou lindo!

Depois do intervalo tivemos a Segunda obra de Sofia Gubaidulina que eu apelidei de “Música das Segundas menores” que foi feita com uma orquestra grandiosa (o tamanho da partitura do maestro era assombrosa e ele virava a cada segundo de pagina!).

Me contaram que é nessa música que a seqüência de Fibonaci aparece. No fim do concerto eu estava indo embora e me lembrei que teria a chance de perguntar para a própria compositora se isso é realmente verdade ou se é apenas um mito matemático que circula pelo meio musical! Sai correndo de volta para a sala SP mas cheguei tarde demais...ela já tinha ido embora. Para quem for assistir esses dias, eu IMPLORO que pergunte para ela aonde está a seqüência de Fibonacci e depois explique para nós, amigos do blog, que estamos curiosíssimos a respeito (no mínimo, eu estou...hahha).

Tenho muita coisa para dizer mas vou tentar resumir um pouco...

Eu gostei muito os efeitos que foram feitos e a atmosfera que a Sofia conseguiu criar, Sofia preza muito o silêncio como parte da música, em certo momento, o regente chegou a “reger” o silêncio, acho isso genial, uma pena que algumas pessoas insistem em tossir nessa horas. A respeito do maestro, achei ele muito elegante, expressivo e preciso em toda a obra e merece os parabéns, não é fácil reger música contemporânea...qualquer descuido e ele não se acha mais...

É legal ressaltar também que a orquestra mudou totalmente a sua “organização” tradicional (de violinos a esquerda, depois violas “no meio”, cellos e contrabaixos a direita etc), ela estava formada em forma de V . Isto é, de fora para dentro tivemos, tanto na esquerda quando na direita: contrabaixos e cellos,depois para dentro violas, depois os violinos, e no meio as 2 harpas e a celesta. Esse “V” que a orquestra formou fez com que se criasse 2 grandes grupos de instrumentos, um na direita e outro na esquerda, como dois coros diferentes que vão “conversando” e trocando “idéias” durante a obra (só achei que essa conversa entre essas duas orquestras foi relativamente pequena...)

Eu arrisco dizer que a música se resume em 3 diferentes “situações”, que ao decorrer da obra, são tocadas também simultaneamente:
1- Utilização de 2ªm que sobre cromaticamente até um “apse”. (esse “tema” vai migrando de naipe a naipe da orquestra...). Minha opinião: usar os intervalos de segunda entre as violas fica um som meio aveludado e sombrio maravilhoso, porem usar demasiadamente esses intervalos entre os violinos é muito estridente e me deixou atordoado!
2- Utilização de glissandos( principalmente as cordas) . Quando a orquestra inteira fica usando glissandos, você fica não consegue saber de onde vem tantos sons diferentes e o efeito que se consegue é incrível! Um efeito assombroso e psicodélico, de vozes que parecem sussurrar (fiquei arrepiado nessa parte...muito bom!)
3- Utilização de “Col legno” (Efeito em que os instrumentos das cordas usam a parte de madeira do arco para tocar, criando uma sensação de movimento, um som meio seco e único).

Antes do momento do apse da música podemos reparar que os instrumentos vão fazendo “temas” independentes (lembrando que é tema entre aspas pois é atonal) que vão se juntando e com o apoio dos metais e da percurssão que me deixou louco (no bom sentido), só fiquei decepcionado que depois disso ocorre uns acordes dos trombones dissonantes =(

A música em si não é muito agradável e é muito difícil de entender, eu diria que ela é complexa e grandiosa, mas teria que ouvi-la no mínimo mais umas 10 vezes para apreciá-la da maneira que ela merece. Essa música é extremamente transcendental e para ouvi-la é necessário um estado de espírito diferente, você tem que “deixar a música de levar”...(uma coisa que achei curiosa: olhando a compositora no balcão mezanino, tive a impressão que ela vive em “outro mundo”, só eu achei isso ou alguém também?)

Os metais estão de parabéns, fiquei impressionado principalmente no momento em que os dois "grupos" de metais diferentes (um em cada lado do palco), conversam... eles fizeram sublimemente. Os sons foram se entrelaçando parecendo um a continuação do outro, ahhh!! lindo!! Extremamente musicais!!
A celesta também teve foi muito bem tocadano seu solo, a imagem que me veio a cabeça foram gotas de chuvas caindo, ahh!! efeito muito bom de Sofia que me lembrou efeitos de Debussy como no "jardins sur la pluie" (estampes)!!

E o final eu achei maravilhooooso! as cordas começam "loucamente" a tocar, fazendo um ambiente de suspense, (as violas sempre em ostinato, lembrando o "voo do besouro" de korsakov), e depois entra a percussão fazendo uma batida bem "militar" que lembra um ambiente de guerra, dai para completar entra as 2ªs menores cada vez mais agudas, e vai crescendo a dinamica, vai crescendo AHHHHHHHHH!!! (Pena que depois tem aqueles acordes feios dos metais) =X haha E tem uma surpresa no final que eu não vou falar...(a mesmo que o orgão fez vai acontecer tb)

Pequena crítica: Quando vamos ter um orgão que preste heim!? pelo amor de deus!! Depois que o maestro rege o silencio, o primeiro instrumento que "quebra" esse silêncio é o órgão com uma nota muito aguda, o som é tão artificial que no primeiro momento achei que era algum celular (meu coração disparou). Depois os instrumentos vão entrando pouco a pouco e quando esta quase no apse, vão saindo pouco a pouco até sobrar novamente o órgão (ou a tentativa frustrada de um órgão)

Abraço a todos,

John Blanch

2 comentários:

  1. A Série de Fibonacci não aparece na primeira obra de Gubaidulina- (Two Paths, e sim na segunda (Stimmen... verstummen... ). O oitavo movimento é um solo de bumbo sinfônico onde a compositora deixa evidente a exposição numérica da série de Fibonacci, é onde você faz a analogia com a batida "militar". O clímax realmente ocorre no nono movimento quando ocorre um "Solo de Regência". A proposta do regente torna-se a fazer passar as mãos cada vez mais afastadas umas das outras de acordo com a seqüência Fibonacci...

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  2. Demais!! Nossa, obrigado por suas explicações. Eu realmente stava muito encanado a respeito da sequencia de fibonacci que eu não conseguia descobrir aonde estava...(Agora está explicado o motivo: eu estava procurando na música errada...)
    Continue sempre que possível compartilhando informações por aqui.
    obrigado!

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