quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Temporada OSESP - (Mussorgsky/Shostakovich/Rachmaninoff/Tchaikovsky)



Yas Pascal Tortelier regente
Arnaldo Cohen piano

Modest Mussorgsky - Khovantchina: Prelúdio
Dmitri Shostakovich - Sinfonia nº 9 em Mi b maior, Op.70
Sergei Rachmaninoff - Concerto nº4 para Piano, Op.40
Pyotr Il'yich Tchaikovsky - Abertura 1812, Op.49



Concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de SP - (07/08/09)
A orquestra finalmente retornou após a turnê pelo interior (Osesp Itinerante)e apesar de ficar apenas um mês sem ouvi-la posso dizer que senti uma imensa falta dela e não via a hora de assistir o concerto dessa semana.

Passeando pelo romantismo e modernismo russo, esse programa nos traz obras incríveis e muito bem selecionadas. Quem quiser aprofundar seus conhecimentos sobre essas obras ou ouvir gravações delas é só procurar na sessão "nova visão", aqui no blog, os respectivos posts com a explicação e analise de tudo.

Vou aproveitar esse espaço para comentar com vocês um fato que "não pode passar batido". Ontem fiquei sabendo através de amigos sobre uma crítica extremamente negativa do concerto e principalmente da influencia do maestro Tortelier à Osesp. A crítica foi feita por Paulo Henrique Amorim (aqui).

Acho interessante e gosto muito de pessoas sinceras, que dizem o que pensam sem medo das conseqüências e apesar de eu ter um grande respeito pelo maestro John Neshiling e ainda estar extremamente magoado com sua saída, nunca iria fazer uma crítica como a de Paulo Henrique Amorim, sem a menor consistência musical e simplesmente com mágoas políticas.

SIM! Estou extremamente irritado com a mudança na programação da sociedade cultura artística que impediu a execução da 9ª de Mahler com a Filarmônica de Israel trocando-a por algo mais "leve".

SIM!
Concordo que colocar o "momento disney" (PHA referindo-se à Abertura 1812) no final do concerto foi, de certa maneira, algo egocêntrico, apenas para que o público pulasse de suas cadeiras, ovacionasse o maestro e voltasse para casa com críticas positivas à respeito dele

mas apesar de tudo isso...

NÃO!
não acho, de maneira alguma, que seja motivo para alarde e ironias do tipo "em breve teremos Marcha soldado, cabeça de papel na Sala SP"(Paulo Henrique Amorim). Que mal há em terminar o concerto com alto astral invertendo a ordem do programa? (a Osesp já fez isso inúmeras vezes em temporadas anteriores). Não é gostoso voltar para casa assobiando a 1812?

Ir a um concerto com raiva do maestro, do governo, do país, dos músicos, da mudança de ordem de execução das peças e ainda fazer uma crítica musical, sem nenhuma análise da música ou argumento plausível, chamando a nossa orquestra de medíocre....AHH!....é demais para o meu gosto....
(O único argumento musical que encontrei foi: "O maestro lia a partitura,os músicos liam a partitura, Era uma sessão de leitura." Desde quando isso é algum pecado?! Qual a diferença?!?! Nós vamos ao concerto da Osesp para OUVIR a música poxa!!!! (Sempre fui a favor de assistir um concerto com os ouvidos e não com os olhos, pois muitas vezes eles enganam, e muito!)

Aiai viu....é impressionante como o mundo da música sempre é contaminado com essa politicagem nojenta!

Bom...vamos voltar ao que interessa afinal de tudo: Música! Vou dar a seguir minha opinião sobre o concerto, porém com fundamentos musicais e de forma neutra (sem tomar partido nenhum).

Modest MUSSORGSKY - Prelúdio da Ópera Khovantchina
Não sei se é a minha espectativa que estava alta demais, ou se ouvi demasiadamente a gravação da Filarmônica de Berlim com Claudio Abado ou se a OSESP não estava muito inspirada, mas a execução da obra começou com o pé esquerdo.
Além de começar de uma maneira muito "fria", as cordas não conseguiram criar o ambiente especial necessário, faltou consistência nos pizzicatos dos baixos em comparação com o maravilhoso solo dos violinos e quando os cellos entravam, não fraseavam quase nada e pareciam tocar sem vontade nenhuma...faltou conseguir fazer uma melodia muito mais retórica.
Ainda bem que o final melhorou muito e aquele ambiente frio do começo se transformou em algo mágico. Essa drástica mudança, acredito que tenha ocorrida graças ao formidável tema do clarinete e da orquestra em extremo equilíbrio e os lindos e soberbos solos da flauta, que foram impecáveis e de arrepiar! (Parabéns especial à esses dois que nos proporcionaram um final muito bonito que quase me fez chorar.)

Dimitri SHOSTAKOVICH - Sinfonia n.9 em Mi bemol menor, Op.70
A sinfonia de Shostakovich com certeza foi o ponto alto da noite! A melhor de todas as obras apresentadas! O 1º movimento começou muito bem, um pouquinho lento demais, porém estava muito bem trabalhado.
A exposição do movimento foi muito leve (bem característico de Haydn) e devo parabenizar o clarinete e o oboé que foram incríveis. Pena que em seguida os metais se desencontraram um pouco. (mas nada muito grave)
Como foi dito acima por PHA, o maestro estava com partitura (o que não é problema nenhum) e achei engraçado pois na hora de fazer a repetição da exposição ele se perdeu e ficou a exposição inteira "regendo" de cor, sem virar página! rs
No Desenvolvimento talvez tenha faltado um pouco de som, mas mesmo assim as idéias foram ótimas, os cellos foram incríveis e o momento "auge do movimento" onde os metais entram junto com a percussão foi impecável. Na reexposição quando o segundo tema é feito pelo violino, Emannuele Baldini fez um belíssimo solo com um caráter musical bem divertido. Muito bom!

Se eu saí da sala extremamente contente foi graças ao 2º movimento da sinfonia, que beirou a perfeição. O começo, onde os cellos fazem pizzicatos, foi praticamente perfeito! Eles frasearam cada nota e o clarinete fez um solo que me deixou louco. A flauta também teve seus momentos, mas foi prejudicada um pouco pelo exagero de dinâmica do fagote.
Os "recitativos" foram maravilhosos e o momento da progressão de acordes cromáticos em forma de valsa tiveram uma bela condução das cordas!!Perfeito!! Com olhos fechados senti estar em casa ouvindo uma gravação impecável de uma grande orquestra internacional (pena que os cellos novamente decepcionaram um pouco no auge desses acordes, tocando novamente "sem vontade", mas apesar disso senti orgulho da nossa OSESP).

O 3º movimento começou com um bom tempo e a orquestra estava muito precisa. Me diverti com as síncopes dos cellos, que fizeram algum efeito que me deixou inquieto na cadeira (foi genial) e o clarinete fez sua parte, mas infelizmente a trompa deu uma pequeno deslize, melhorando só no final do movimento.

O 4º movimento começou com aquele imponente solo de metais, que foram feitos com precisão e continuou com o grande momento em que todo o fagotista sonha (os grandes solos!). Uma coisa que me chamou atenção foi o controle de arco principalmente das violas, que faziam uma "nota pedal" com um som extremamente continuo enquanto o fagote fazia seu grande solo (apesar de terem que trocar de arco várias vezes...a sensação auditiva que tinha era de ser apenas uma arcada gigante que durava uma eternidade!! Parabéns!

Para terminar com chave de ouro tivemos o divertido 5º movimento. Fiquei pasmo com uma passagem do oboé dificílima, com notas muito agudas e em uma velocidade absurda, que foram feitas de forma magnifica! Após o "cancan" (me referindo ao último movimento), saí para o intervalo muito contente e satisfeito com o resultado da orquestra e logicamente estava louco para ouvir o concerto de piano de Rachmaninoff...

Sergei RACHMANINOFF - Concerto para piano n.4
O patinho feio dos concerto para piano de Rachmaninov é, para mim, uma preciosidade de outra dimensão. Com esse concerto, Arnaldo Cohen ficou a um passo de terminar o ciclo dos concertos para piano de Rachmaninoff com a Osesp (ele fez o 2º e o 3º concerto ano passado, e fará o 1º e o 4º esse ano).

O primeiro movimento começou muito bem. Arnaldo Cohen fraseou incrivelmente bem os acordes iniciais de forma perspicaz e inteligente. Apesar do enorme trabalho e cuidado musical pela parte de Cohen, senti que faltou, no decorrer da obra inteira, muito mais som. (não sei se a orquestra exagerou nos fortes ou o piano pecou nos fortíssimos mas o resultado final foram fortíssimos onde não se ouvia o piano)

A OSESP possui 2 pianos Steinways reservados especialmente para os concertos. O piano n.2 esta muito aberto e bem sonoramente, mas em comparação com o n.1 peca na qualidade timbrística. Imagino que Cohen passou por essa dúvida cruel entre os pianos e possivelmente tenha ficado com o n.1 (que, por experiência, sei que é difícil tirar um som muito potente dele.....mas isso não seria desculpa...afinal....É UM STEINWAY CAUDA INTEIRA!).

Quando o piano dialoga com a trompa e começa com um crescendo fenomenal do grave ao agudo, do tranqüilo ao tenso, do lamento ao desespero...terminando com o tema feito pela orquestra no auge do movimento e lindos solos do oboé...AHHH!! Me emocionei !! Nessas horas dou graças a deus por ter a oportunidade de assistir um concerto como esses e poder aprecia-lo de uma maneira transcedental. Essa é a prova de como a música é algo grandioso e tem a capacidade de mexer tanto nas nossas vidas como em nossas almas.

Como disse acima, em geral o concerto foi bom, gostei das intenções de Cohen mas apesar da boa equalização, faltou muito mais som, projeção e infelizmente tiveram alguns pequenos desencontros entre a orquestra e o piano (mas isso não foi nada grave).

O bis foi um estudo de Moskovsky, extremamente divertido e "virtuoso" (não em relação à dificuldade da obra, e sim à enorme quantidade de notas e a velocidade escolhida por Cohen).


Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY- Abertura Solene 1812 (op.49)

Muitos à chamam de clichê, alguns à chamam de cafona, outros à chamam de genial. A grandiosa Abertura 1812 de Tchaikovsky chamada por alguns de "momento disney" da noite, é sem duvida alguma, muito gostosa de ouvir e se divertir com essa história que descreve a vitória Russa sobre a França de Napoleão.

Achei muito engraçado ver um maestro francês regendo a obra e ainda por cima dar altos pulos no momento da vitória russa! rs

Parte dos músicos que não cabiam em cima do palco (os metais extras) tiveram que ficar na escada, ao lado do público. A pobre senhora idosa que estava sentada na primeira fileira ao lado do palco ficou tão assustada com a tuba "grudada" em seu ouvido, que a sua cara de preocupação dela foi inesquecível! rs (juro que se tivesse sentado próximo iria trocar de lugar com ela...coitada...rs)

Bom, voltando ao que interessa:

O começo da abertura, feito pelo sexteto de cordas foi tão impecável e tão bem trabalhado, tão bem intencionado, com uma direção e caráter tão adequada, que fiquei de boca aberta! Acabando o concerto a primeira coisa que fiz foi parabenizar as duas violas, que fizeram o momento "coral" tão bem fraseado e com uma sonoridade tão aveludada e bonita que poderia ir embora sem ouvir os tiros dos canhões e os sinos que sairia de la contente! (outra coisa...eu estava com muita dor de cabeça no dia....imagina o que é ouvir a abertura 1812 com dor de cabeça! rs)

Não vou dar muitos detalhes sobre a execução pois no momento dos fortíssimos minha cabeça estava quase explodindo, mas apesar de tudo isso, me lembro de ter saído satisfeito com a execução e por incrível que pareça, enquanto a maioria assobiava o hino francês, eu não conseguia parar de cantarolar algumas passagens do 1ºmovimento da sinfonia do Shostakovich (Não...eu não sou "do contra" ok? É que eu sou um pouco doido mesmo). rs

Um abraço a todos,

John Blanch

7 comentários:

  1. Vc leva a sério Paulo Henrique Amorim?!
    Hahahaha!!!

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  2. Eu gostei de seus comentarios, especialmente no que diz respeito a parte musical. Obrigada

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  3. Muito bom seu blog. Apesar de estar longe do Brasil, gosto de acompanhar os movimentos musicais, quem sabe um dia volto.

    So um porem, a coluna ao lado na cor escura, dificulta e muitas vezes impede totalmente a leitura. Teria como mudar a cor. Alguns olhos ja nao sao tao habeis na leitura.

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  4. Ou pelo menos nao escrever na cor preta ou outra cor escura.

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  5. Obrigado pelo comentário!
    O único texto que está na cor preta é o da votação, mas infelizmente não consigo mudá-lo, vou prestar mais atenção nisso!
    Abraço Baggio!

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  6. Puxa, John... Que blog bárbaro! Pelo visto terei de estudar muito mais para continuar sendo sua professora...rs E logo terei de ter aulas contigo! Beijo!

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  7. O mundo é cheio de imbecis...
    tiram um, dois três... o resto, imbecil...
    Oi, vocês estão esquecendo que rótulos vem de rotulados.
    Aproveitem a vida pra fazer algo original, não se achar original evidenciando uma fraqueza de personalidade.
    Ridículo vestir a fantasia do "músico" e desfilar por aí tentando, em devaneios, encontrar-se nas definições dos conceitos musicais.
    Bom, continuemos no século da visão e da música como entretenimento, como se fosse feita pra nós(alma...)e não a revelação da natureza, ahh velhos tempos de Heráclito...

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