sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Temporada OSESP - (Weill/Kodály/Beethoven)




Gabor Ötvös regente

Kurt Weill - Sinfonia nº 2
Zoltán Kodály - Variações sobre uma Canção húngara - O Pavão
Ludwig van Beethoven - Sinfonia nº 2 em Ré maior, Op.36

Concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de SP - (20/08/09)
De todos os amigos que conheço que freqüentam semanalmente os concertos da OSESP, quase nenhum se interessou por esse programa dessa semana. Porque tanta gente resolveu não ir? Até hoje não entendo esse preconceito bobo com coisas "novas"; não só em música, mas na vida em geral. Ainda pretendo estudar filosofia para aprofundar o assunto, (quem quiser indicar algum livro agradeço muito...)



Percebo que é natural do ser humano sempre rejeitar coisas novas, que fujam de sua rotina ou de seu universo do "conhecido" e normalmente gosto de fazer uma comparação:
-Quando Beethoven começou a inovar rompendo com os padrões formais da música classicista da época, qual foi a primeira reação do público? "Eca, que música mais bizarra", "confusa", "Beethoven ficou louco"
-Quando se fala em música contemporânea e moderna, qual é a primeira coisa que lhe vem a cabeça? "Eca, que música mais bizarra", "confusa", "Os compositores contemporâneos ficaram loucos"
-Quando a OSESP lhe da a oportunidade de conhecer grandes nomes da composições húngara e alemã menos conhecido nas Américas, qual a nossa primeira reação? "Aiai, o concerto vai ser chato..."

É curioso como o o nosso comportamento, mesmo com o passar dos séculos, continua a mesma (seja com Beethoven em 1800 ou com Almeida Prado em 2009) Se você não se viu em nenhum dos exemplos sinta-se especial: és uma exceção!rs. Mas vamos parar de filosofar e falar sobre o concerto dessa semana...

Sinfonia n.2 de Kurt Weill
1ºMovimento
É uma pena que eu só tenha conseguido fazer a analise da Sinfonia alguns dias após o concerto, isso com certeza fez com que minha apreciação do concerto não fosse tão apurada, afinal, o dia do concerto foi para mim "a primeira audição da obra".

Achei interessante a orquestra pequena, talvez seja por isso, entre outras coisas, que alguns musicólogos afirmam que essa sinfonia foi inspirada também em Haydn. Apesar de uma orquestra pequena o som da orquestra preencheu toda a sala!

Fiquei encantado pelo grande solo inicial do trompete, e o que me impressionou muito, além do controle do som, foi o vibrato! Foi um vibrato continuo, pensado e foi uma das poucas vezes que fiquei cativado por um vibrato, todos os violinistas do mundo deveriam fazer uma master class com o trompetista, ou no mínimo ouvir a gravação: fenomenal!

Como todo o "ouvinte de primeira viagem" da sinfonia, achei as linhas melódicas dos sopros em forma ternária muito bonitas e envolventes sempre seguidos de um suspense exorbitante! Lembro-me de ter gostado bastante da equalização da flauta e do oboé, mas tenha a vaga impressão que senti que o tema feito pelo clarinete foi um pouco rítmico demais (Disse "vaga impressão", pois faz 1 semana que o concerto ocorreu)

Também gostei bastante das trompas, já que praticamente não falharam e após o incrível efeito feito de acompanhamento "stacatto" das cordas junto ao solo do clarinete e dos trompetes, achei que o timpanista arrasou!

2ºMovimento
Se até hoje, depois de ouvir centenas de vezes esse começo, ainda não consigo apreciar como deveria esses acordes iniciais, imagine como foi no concerto: Achei os acordes iniciais muito estranhos e o ritmo quebrado não me ajudava a compreender o início.

Fazia tempo que não escutava um solo de flauta tão bem executado. A flautista, que não era a da OSESP, (ela estava fazendo apenas "cachê"), deixou todos impressionados com o seu som grandioso e seus fraseados extraordinários. Seus solos ao decorrer do movimento me emocionaram e tive a vontade de gritar muitos e muitos bravos para ela: Realmente é uma musicista que SABE fazer música. Ahh!! Torço para ela fazer o teste para entrar na OSESP: Imaginem Jéssica e essa flautista juntas que maravilha? (Jéssica é a flautista principal atual da OSESP, que também é fenomenal!)

Venho aproveitar e fazer uma pequeno protesto contra os assopros constantes do oboísta no decorrer da obra (não para tocar a nota, e sim para "limpar o instrumento"), e o que mais me irrita é que sempre que a orquestra está em um super pianíssimo, o oboísta me inventa de limpar o instrumento fazendo o maior barulho: sei que isso é necessário, mas não daria para ser mais discreto e não fazer um barulhão nos momentos mais transcendentais da obra destruindo os soberbos solos da flauta? Agradeço desde já!

Voltando...
O solo do trombone foi muito afinado mas faltou o charme que os fraseados da flauta conseguiram fazer, conseqüentemente o solo do trombone foi muito igual e sem direção. (O final de frase poderia ser bem mais prezado e apreciado).

Não sei porque, mais ficava encantado com o tímpano, interessante ve-los afinados em notas próximas, algumas vezes uma segunda menor!! Levei um susto ouvindo o tímpano fazendo "melodias", e algumas vezes até duas notas cromáticas!! Adorei!

Tudo que fiquei impressionado com o tímpano, fiquei irritado com a caixa de rufo, que estava em um ritmo relativamente diferente da orquestra, sempre um pouco atrasado! Ahh!! Uma pena!!

A pequena "fughetta" das cordas foi muito interessante e em seguida o som que saía daquela flauta conquistou novamente meu ouvido, meu coração, minha alma! Incrível!!

O final a orquestra me deixou em outra dimensão: o final extremamente pianíssimo feito de uma maneira tão pura, praticamente sem vibrato, me deixou pasmo! Fiquei hipnotizado pelo som da orquestra!

3ºMovimento
O movimento começa com as cordas com surdina, e em seguida, graças a deus, a caixa de rufo melhorou bastante e estava em sincronia com a orquestra.

As escalas dos dois picollos foram muuito bem feitos e é engraçado que logo depois que as duas flautistas tocaram o picollo, elas mal acabaram a ultima nota e já "correram" para pegar sua flauta transversal à tempo de tocar a próxima frase!!rs

Gostei do solo stacatto da flauta, foi MUITO bom e o caráter enérgico que o clarinete começou uma espécie de marcha, me deixou tão "concentrado" na obra, que quase que me senti retornando 76 anos no tempo e vivenciando o sofrimento pré-guerra. Demais!

Só fiquei irritado com o final, onde o acelerando feito pelo maestro ficou muito exagerado e "desengonçado", perdendo totalmente o ritmo preciso, militar e pesado.

Variações "O Pavão" de Zoltan Kodaly
Nada melhor que Gabor Ötvös (regente húngaro) para reger e divulgar o grande compositor húngar "pouco" conhecido: Zoltán Kodály

O imenso texto que fiz sobre as variações pavão misteriosamente apagou-se e infelizmente não vou escrever tudo de novo, vou apenas resumir:

Não conhecia a obra e apesar de tudo, gostei do geral dela. Me emocionei nos pianíssimos da obra, e novamente a flautista arrasou! (em compensação o mesmo tema feito pelo picollo não saiu nada bom.)

Não gostei de algumas pequenas coisas: A harpa tirou um som muito seco ao decorrer da obra, e a orquestra (maestro) fez um fortíssimo muito exagerado no começo dela, não "guardando-o" para o grande final.

As melodias pentatônicas e as 5ª's paralelas, ao longo da obra, lembraram-me de um ambiente muito chinês! A conversa entre o corne inglês e o clarinete também deixou claro uma coisa: o clarinetista precisaria trabalhar um pouquinho mais no fraseado para conseguir ser tão musical e expressivo quanto o corne inglês.

A obra realmente pareceu ser um fantástico desafio para os sopros, que recebem um tratamento muito especial do compositor. O final é muito difícil para as cordas e gostei muito do resultado, mas talvez tenha faltado um pouco de "finesse", principalmente nos momentos mais importantes da obra.

Sinfonia n.2 de Beethoven
Imagine a responsabilidade da OSESP em executar uma Sinfonia de Beethoven apenas alguns dias depois da Filarmônica de Israel e Zubin Metha executarem a Sinfonia n.6 e 7 de Beethoven!!

Gostei do começo da Sinfonia, principalmente os fraseados, mas em geral senti que faltou um pouco de "classe"(não é a descrição mais adequada, mas não me vem outra à cabeça). Outra coisa que senti foi que o tema B feito pelos sopros, faltou caráter (se fosse um pouco mais stacatto iria ficar beem melhor) mas em compensação o oboé me impressionou com seus solos e momentos líricos, muito bem feitos!

O segundo movimento não conseguiu ter a expressividade necessária. O que mais percebi (ao contrário orquestra de Israel), foi que os acompanhamentos feito pelas cordas da OSESP não tinham musicalidade (é como se eles pensassem: "estou fazendo acompanhamento, não é importante..." Errado!! É importante sim! Alias, é fundamental!! (Esse foi um dos motivos pelos quais o trabalho de Zubin Metha me impressionou tanto!)

O terceiro movimento, para não dizer que foi um desastre, posso dizer que foi..."estranho". O tempo escolhido pelo maestro foi ridiculamente rápido demais e todos estavam perdidos com isso. Escolher um tempo rápido não tem problema nenhum (contanto que as coisas não fique "desleixadas" e "pedestres"), mas o maestro começou com um tempo super rápido e quando o mesmo tema voltou no final do movimento, adivinha o que aconteceu? A orquestra estava quase na metade do andamento!! Como é possível começar em uma velocidade e acabar na outra?! (Ainda mais na Sinfonia de Beethoven 2, que tem influencias extremamente classicistas de sua 1ª fase!!)

Apesar de gostar da regência do maestro (extremamente clara e precisa), não gostei do trabalho que ele fez com essa Sinfonia. Faltou OUVIR as harmonias direito e principalmente as modulações que acontecem ao decorrer da obra, foi tudo muito rápido e mecânico.

Um abraço a todos,

John Blanch

Um comentário:

  1. Ah, estou aliviada por vc ter ido ao concerto, pois eu fui na sexta e queria a opinião de outrem sobre o desempenho da orquestra nas obras. Mas na minha opinião , e eu já tinha ouvido algumas vezes a sinfonia do Weill, a orquestra não tava tão sintonizada nessa obra, exceto pelos solos, como estava na do Kodaly (que foi linda). Vibrato no trompete não deve ser fácil! Rsrsrs Bjs

    ResponderExcluir