sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SP em Concerto - Orquestra Filarmônica de Israel - Zubin Metha


Filarmônica de Israel
Em 1936, no período em que o governo nacional-socialista alemão afastou de suas orquestras todos os músicos de origem judaica, o violinista polonês Bronislaw Huberman fez questão de recrutar mais de 75 musicistas europeus ameaçados pela ascensão do nazismo e os convenceu a migrar para a Palestina, criando assim, a Filarmônica de Israel, que tornou-se hoje o símbolo do estado Judeu.



Zubin Metha
O maestro indiano Zubin Metha subiu ao pódio da Filarmônica de Israel pela primeira vez em 1961, quando tinha apenas 25 anos (a mesma idade da orquestra) e voltou a regê-la em momentos cruciais da história do país e de sua mais importante filarmônica: em plena Guerra dos Seis Dias, em 1967, e durante os ataques de mísseis iraquianos ao país, por ocasião da primeira Guerra do Golfo, em 1991. Hoje em dia, Zubin Metha é Diretor Musical da Filarmônica de Israel (condição vitalício)e Regente Honorário das orquestras Filarmônicas de Viena, Munique, Los Angeles, do Teatro del Maggio Musicale e da Ópera Estatal de Baviera

Sociedade Cultura Artística
Tudo começou em 1912, quando um grupo de amantes das artes - poetas, jornalistas, músicos, advogados, professores, engenheiros, comerciantres, empresarios - fundou uma sociedade para incentivar o desenvolvimento cultural da cidade.

A sociedade Cultura Artística é responsável por trazer as maiores orquestras e melhores intérpretes da atualidade para se apresentarem em SP. Nada pode expressar melhor a importância da Cultura Artística do que este depoimento de Mário de Andrade:

"O que determina, em principal, o mérito primeiro e a utilidade magnífica da Sociedade de Cultura Artística é a qualidade musical que ela impõe a São Paulo, se erguendo a pioneira na apresentação dos grandes virtuosos e agrupamentos musicais de celebridade mundial. (...) E si é incontestável que a vida musical paulista ainda se consegue manter numa elevação muito honrosa, ela o deve em parte decisiva ao exemplo e ação da Sociedade de Cultura Artística."

Brasil na Orquestra
Entre os jóvens músicos da orquestra, está um brasileiro, o contrabaixista Adriano Costa Chaves. Metha o conheceu em 2005, quando visitou o projeto do Instituto Bacarelli, na favela de Heliópolis, e o levou para estudar em Israel. "É um músico excepcional e estou particularmente feliz de voltar ao Brasil com ele com oparte de nosso grupo" disse Metha.

----------------CONCERTO DIA 10/08/09 - BEETHOVEN----------------
Sinfonia n.6 - "Pastoral" (op.68 em Fá Maior)
Fazia tempo que não encontrava uma orquestra tão impecável! O tempo escolhido pelo maestro foi ideal, a orquestra tinha graves extraordinários e todos os instrumentos eram bem trabalhados.
Em quase todos os concertos que assisto, sempre tem algum músico da orquestra que faz uma frase musical com intenção diferente do que a orquestra, mas a orquestra Filarmonica de Israel, nesse ponto de vista, foi formidável!

Os dois temas pincipais complementares do 1º movimento foram incríveis e tudo estava tão bem equalizado e fluente que chegava a ser melhor que muitas gravações que conheço. Nesse movimento em especial o oboísta me impressionou muito, devido ao seu som muito potente e uma vasta gama de timbres.

O 2ºmovimento teve lindos solos do fagote (muito musical e com uma sonoridade mais aveludada) e dos sopros sobre o "murmúrio" ondulante das cordas. O ostinato dos stacattos dos 1º violinos foi muito leve e por incrível que pareça eram extremamente "musicais"! Era incrível como os sopros tinham uma grande projeção! O clarinete parecia fazer bruxarias (no bom sentido, pois cada nota parecia surgir do além e uma levava a outra..AHH)

O 3º,4º e 5º movimento foram marcados pelas maravilhas que a trompa fazia. Eu nunca vi uma trompa tão perfeita! Além de não falhar nenhuma nota, afinar todas elas, e ter uma precisão milimétrica, a trompa fazia cada fraseado que me deixou pasmo (senti vontade até de ouvir um recital solo de trompa com ele!). Não pude deixar de notar que no momento mais calmo da obra o 2ºoboísta desastrado fez um barulhão quando a sua partitura caiu! rs

Em geral a orquestra foi perfeita musicalmente, tecnicamente, instrumentalmente e se eu fechasse os olhos me sentia ouvindo uma gravação de tamanha perfeição...maaas...a sinfonia de Beethoven foi muito morna, com fortíssimos dosados (até demais) e conseqüentemente a "Tempestade" (4ºmov.) virou "garoa". rs

Sinfonia n.7 em Lá Maior op.92
Quando comecei a ouvir o 1º movimento, tive a impressão de que a flauta transversal estava com um som muito melhor: som grandioso e com belo timbre. Como estava um pouco longe do palco, acabei deixando passar e só no fim do concerto fui comentar com os academistas da OSESP sobre isso e foi aí que me falaram o motivo: O músico era outro e além disso a flauta transversal era de MADEIRA!

O trompete também não era o "convencional' (de pistão), foi utilizado o trompete de rotor, pois sua sonoridade é muito mais "aveludada" e lembra os instrumentos de época.

Quase chorei de emoção no 2º movimento da Sinfonia. Esse tema é um dos meus favoritos e se eu ouço ele uma vez, fico o mês inteiro cantarolando ele o dia todo. Eu nunca ouvi, ao vivo, pianíssimos como os dos cellos e das violas. A dinâmica ia do pppp até o ff (Eu digo ff pois ao contrário da Sinfonia n.6, a sonoridade da orquestra foi bem melhor e passou a encher a sala).

O grande solo da flauta transversal, junto com os pizzicatos dos baixos e acompanhamento cordas com notas ppp foi emocionante! A fuga que segue essa parte foi feita com uma delicadeza e ao mesmo tempo com uma intensão muito "nobre" que me deixou extasiado!

O ambiente alegre e festivo do 3º movimento foi extremamente delicado, em um estilo bem do "classicismo". Novamente a variedade de dinâmica foi o ponto forte da orquestra.

Com certeza todo o público ficou contente quando o 4º movimento foi executado, pois além de ser extremamente conhecido é muito enérgico e teve o final bem intenso, feroz e de caráter "bethoviniano".

Como disse acima, o concerto beirou a perfeição, alias, foi perfeito! O público, que lotou quase todos os 1501 lugares da Sala SP, ficou tão encantado com a orquestra e com o maestro que ele teve que voltar 4 vezes para agradecer e a orquestra fez o bis com uma obra de Strauss, para encerrar a noite com chave de ouro!

-----------------CONCERTO DIA 11/08/09 - STRAUSS-----------------
Don Juan, Poema Sinfônico op.20
A primeira coisa que notei quando a orquestra tocou a primeira frase (a apresentação do herói) foi a diferença de sonoridade em comparação com o concerto do dia anterior. A orquestra estava muito mais potente!

Quando a harpa fez aquele "anúncio" inicial precedido pelo solo do 1ºviolino me perguntei: Como uma orquestra consegue ser tão perfeita assim? Me deus....inacreditável! A noite com certeza era do 1º violino (que tinha grandes momentos líricos solísticos em todas as obras apresentadas).

Assim como ontem, as trompas arrasaram e os efeitos orquestrais foram incríveis (principalmente o tremolo dos 2ºviolinos no final, que foi de arrepiar!!) Os solos do oboé representam uma nova aventura amorosa do conquistador Don Juan e como eu estava esperando com vontade essa entrada "sensual" do instrumento, não cheguei fiquei "abismado" com o oboísta (foi muito bom, mas não me "convenceu").

O som apesar de mais potente ainda sim foi "dosado" e o maestro fez questão de não exagerar nos fortíssimos. Em geral, apesar de não ser totalmente "impecável" como ontem, hoje a orquestra beirou à perfeição.


Alegres travessuras de Till Eulenspiegels, Poema Sinfônico op.28
O poema sinfônico op.28, toma como "assunto" principal essa figura picaresca do folclore medieval germânico. Till Eulenspiegels era um enorme pregador de peças que roubava dos ricos para dar aos pobre e essa obra de enorme efeito e grande comunicabilidade, explica sua popularidade douradora e seu posto de obra mais querida do autor.

A obra merece uma analise mais aprofundada, que ainda pretendo fazer aqui no blog, nos posts "Nova visão". As obras de Strauss normalmente tem muito o que falar!

O solo inicial bem divertido das cordas e das trompas (que é muito difícil e representa os aspectos da personalidade do anti-herói) foi executado maravilhosamente bem e o clarinete, o fagote e o 1ºviolino merecem novamente ser elogiado pelos lindos momentos líricos. (Não podemos deixar de citar também o interessante diálogo entre os metais e o oboé)

Em determinados momentos, o ritmo chega a ser muito difícil e a precisão e segurança dos músicos da Filarmônica de Israel comprovaram novamente a sua impecabilidade e perfeição!

Uma vida de herói, Poema Sinfônico op.40 (Ein Heldenleben)
Em geral a orquestra foi impecável e tanto sua técnica excepcional quanto sua musicalidade vão ficar marcados em minha memória!

Parabéns ao spalla Iliá Konovalóv, que soube contagiar o público com seus solos maravilhosos.

O final foi mágico...mas é uma pena que sempre tem algum "imbecil" (desculpa o termo, mas eu fiquei muito bravo na hora) que grita "bravo" antes do maestro abaixar as mãos (acabando com todo o clima). Ahhh!

Logicamente, a Sala SP inteira ficou de pé e idolatrou o maestro e sua orquestra, afinal, esse concerto com certeza foi inesquecível! Como o público aplaudiu tantas vezes, a orquestra deu bis: a Abertura das Bodas de Fígaro de Mozart. Foi incrível ver a mesma orquestra mudando completamente de caráter e timbre. Tudo muito leve, gracioso e característico do classicismo! Genial!

Como o público novamente foi a loucuras e não parava de aplaudir, tivemos um outro bis: a Polca Tritsch Tratsch de Strauss. Novamente, a orquestra parecia outra e o caráter divertido, com os metais impecáveis foi incrível!! No mesmo dia, tive a impressão de ouvir três orquestras totalmente diferentes, e não consigo dizer qual delas foi melhor! rs

Depois desse concerto, com certeza todos foram para suas casas de alma lavada e um sorriso no rosto!

Abraço a todos,

John Blanch

4 comentários:

  1. Diga-se, de passagem, que Zubin Metha foi aluno de Eleazar de Carvalho, hein!

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  2. Vou ter o privilegio de ver Zubin Metha reger sua orquestra hoje no teatro Pedro segundo!!Depois desse post estou mais entusiasmado !espero que o oboista nao deixe cair sua partitura kkkk.

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  3. John,
    Eu e Giordanna assistimos Israel e Zubin ontem em Ribeirão,
    Faço minha suas palavras, mas desta vez quem deixou cair a partitura foi um trombonista,
    Eles não bisaram, eles trisaram, Zubin voltou ao palco tres vezes e tocaram novamente todas as vezes que ele voltou.
    Ainda estou extasiado.

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  4. verdade? hahaha
    Desastrados!
    Mas que bom...aqui na sala sp também foi um sucesso!

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