segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nova visão - Tchaikovsky e a Abertura 1812


---------------------------------A HISTÓRIA---------------------------------
Abertura Solene 1812 (op.49)
A obra foi composta entre 1880 e 1881 graças a encomenda do diretor dos Concertos da Sociedade Imperial Russa, Nicolas Rubinstein.
Na Rússia, naquele período, diversos acontecimentos solenes estavam prestes a acontecer: a exposição universal das artes em Moscow; o aniversário de coroação de Czar; a criação da nova catedral de Cristo Redentor; a comemoração dos 70 anos da vitória russa sobre Napoleão.



Rubistein (que não era bobo nem nada) disse a Tchaikovsky, que esse era o momento ideal para compor alguma obra que servisse em ocasiões solenes. Essa obra iria alavancar a popularidade de Tchaikovsky e com certeza ajuda-lo muito financeiramente (uma espécie de "jogada de marketing", que deu muito certo).

Tchaikovsky não gostava desse tipo de encomenda, mas aceitou a proposta e começou, mesmo que sem "grande vontade", a trabalhar em sua nova obra em comemoração dos 70 anos da vitória russa sobre Napoleão: A abertura 1812, que descreve o momento de confronto entre esses dois países.

"O concerto da estréia ocorreria na praça em frente ao Kremlin com orquestra, banda de metais, coro, canhões que disparariam 16 tiros acionados pelo regente através de dispositivos elétricos além dos sinos das torres do Kremlin, incluindo aí os da nova catedral. Mas nada disso aconteceu realmente... a peça só foi estreada muito tempo depois em uma sala de concertos.

Canhões já haviam sido empregados na musica russa no Te Deum que Giuseppe Sarti escreveu em 1789 para o Príncipe Potemkin. Para a execução nas salas de concertos, eles normalmente são previamente gravados, assim como deveriam ser os sinos. Tchaikovsky não previa os sinos simples ou os carrilhões que normalmente temos nas orquestras sinfônicas, mas verdadeiros e poderosos sinos de igreja."
(Mauricio Poletti)

Napoleão e seu exército eram temidos e considerados "insuperáveis". Tanto é, que em sua campanha contra o império russo, em 1812, a França saiu inicialmente vitoriosa na Batalha de Borodin. O que Napoleão não contava, era o rigoroso inverno russo e a epidemia de Tifo, que fizeram com que Napoleão ordenasse uma retirada desordenada e catastrófica Seu exército, que antes era de 600.000, foi reduzido a 40.000(Essa "intervenção mágica" à favor da Russia, é retratada na obra quando Tchaikovsky contrapõe os 3 principais "temas", que abaixo vamos discuti-los: a oração, o hino da Rússia e o hino da frança).

Apesar de não estar entre suas maiores obras e de ser considerada por muitos uma obra clichê e “superficial”, a Abertura 1812 é, de fato, uma obra genial, orquestrada e estruturada de forma brilhante, contendo um caráter emotivo bastante forte (muito comum em todas as músicas de Tchaikovsky)e talvez uma das obras mais famosas e queridas pelo público em geral.

Se prestarmos atenção veremos que a abertura faz o uso descarado do hino russo e francês, além de fragmentos do folclore russo (porém de maneira sofisticado). A música em si é praticamente uma grande comédia bem humorada. Uma torta na cara nos franceses talvez? Pode até ser, mas possivelmente isso que faz a música seja tão marcante.

MAIS SOBRE TCHAIKOVSKY:
Tchaikovsky e a Sinfonia n.5

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**A música foi dividida em 2 arquivos pois é muito comprida**
parte 1
parte 2
---------------------------------A MÚSICA---------------------------------
parte 1 do áudio
(00:20) A abertura 1812 começa com um lindo coro baseada no hino "Deus ajude vosso povo" da igreja ortodoxa russa. Quando ouço esse começo, sempre imagino o ambiente antes de uma guerra, onde todos resolvem rezar para Deus e pedir que proteja a sua família. (imagine quantos pais de família tiveram que abandonar suas famílias para ir lutar pela pátria de seu país...)

PS: Existem muitas gravações que começam esse hino com um coral. Na gravação que temos, a obra começa com um “sexteto de cordas”.

(02:29) Tudo indica que as melodia do oboé são citações da música folclórica russa. No caso, os russos são retratados como um povo rural pacífico e “inocente”. A música fica mais tensa e inquieta a cada compasso.

(03:25) No momento que os trombones entram, de forma brutal e selvagem, eles fazem pequenos fragmentos temáticos que me lembram o hino Frances e acabam com a paz local, ferindo a “mãe Rússia”. Esse momento, provavelmente é o retrato da figura de Napoleão Bonaparte que declara guerra contra a Rússia (visto pelos russos como um “Monstro”).

(04:08) Com a entrada da percussão, os sopros fazem uma espécie de marcha, com fragmentos do hino francês “Le Marseillaise” (referindo-se ao povo francês, que se prepara para a batalha e marcham rumo à Rússia).

(05:06) Enquanto os franceses se preparam para a guerra, as passagens musicais de conflito e repetição do tema (feito pelas cordas) sugerem a revolta do povo russo que junto com o tema do hino Frances feito pelos metais (05:48) representa a violência e devastação da 1ª batalha entre esses dois gigantes dos extremos do mundo (leste e oeste).

(06:41) Como o tema francês é feito em abundância em tonalidade maior, a impressão que tenho é de que a primeiro batalha finalmente chegou ao fim com Napoleão vitorioso e as tropas russas (representadas pelas cordas) se retiraram aos poucos.

(07:08) Novamente voltamos a um ambiente de paz, similar à primeira citação russa feita pelo oboé no começo da obra (02:29).

(08:11) Quando a mesma melodia vai para a tonalidade menor, o suspense retorna na música e logo em seguida imagino o exército russo se preparando novamente para outra batalha contra França.

Parte 2 do áudio
(00:15) Novamente as passagens musicais tensas feitas pela cordas (representação russa) junto com o tema do hino Frances feito pelos metais representam a violência e devastação da 2ª batalha entre eles.

(01:40) Enfim...tudo se repete novamente, antes da última e decisiva batalha que é anunciada pelas trompas (02:43).

(03:17)O que acontece a seguir, na verdade, é a reviravolta da Rússia, que começa a ganhar a guerra. Quando o hino é feito pelo tutti orquestral junto aos “tiros de canhão” e cascata de sinos, o exército de Napoleão já foi provavelmente derrotado e o hino russo é tocado em seguida com muito mais vigor (04:08) junto aos sinos, representando a salvação divina de deus (inverno e praga de Tifo contra os franceses) e o aviso ao povo de que a guerra o perigo já passou e termina novamente com citação satírica do hino Frances(05:07), em estilo "cancan", junto a tiros de canhões, o hino russo “Salve o Tsar” e um final grandioso.

Depois de ouvir essa obra com essa interpretação, me diz uma coisa:
Como o "grupo dos cinco" não considera Tchaikovsky um compositor nacionalista?!?!

--------------------------------CURIOSIDADES--------------------------------
-Para ouvir o hino russo "Deus salve o Czar" cliquei aqui. (Hino do império Russo de 1830)

-Para ouvir o hino francês cliquei aqui (versão longa) ou aqui (Versão curta)



Abraço a todos,

John Blanch

13 comentários:

  1. Oi John, tenho uma versão da 1812 executada pela Orquestra Filarmonica de Viena, com o Lorin Maazel com a oração cantada pelo Coro da Ópera de Estado de Viena, é a versão que mais gosto pois a abertura com o coral fica muito mais emocionante, no mesmo disco tem a Batalha de Wellington de Beethoven já ouviu?
    Em Ribeirão Preto, a OSRP executou a 1812 ao ar livre com coral, fogos de artifícios e canhões (do exército) foi emocionante.
    Vou ver se alguem fez alguma gravação, pergunta para o Maestro, ele deve se recordar.

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  2. Em tempo, gostei muito do seu blog, já virei fregues.
    Este é o Cd que falei anteriormente:

    http://www.amazon.com/Tchaikovsky-Overture-Beethoven-Wellingtons-Victory/dp/B00000DRY8/ref=pd_rhf_p_t_1

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  3. Nunca ouvi essa gravação...obrigado pelo dica e comentário Emerson!! =]]
    grande abraço

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  4. E gostei da sua fotinha, quem será que tirei?

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  5. Parabéns, Abertura 1812 é uma das, se não a, minhas músicas preferidas.

    realmente sempre quando eu ouço-a fico imaginando o ambienta na guerra.
    o romantismo de tchaikovsky, para mim, é imbatível.

    abraços!

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  6. Contextualizar obras dessa forma é muito difícil. Parabéns.

    Poderia em ajudar John a interpretar peças pra violino?
    Abç.

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  7. A Abertura 1812 é excelente! Tchai realmente se superou nessa obra.

    Emerson, já cheguei a ouvir a Batalha de Wellington de Beethoven. Em minha opinião, é uma das obras mais fracas dele.

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  8. A propósito, Napoleão também não contava que os russos queimariam a cidade de Moscou, deixando o exército francês sem nenhum mantimento (situação que foi agravada com o inverno "light" com temperaturas de -40º na Rússia). Logo, logo, quando os franceses batessem em retirada, os cossacos iriam "botar pra quebrar".

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  9. O QUE A CLA DISSE É TRUE EU ACABEI DE LER NO LIVRO DE HIST

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  10. russos os deixaram sem mantimentos, doentes e no frio, e os cercaram e "pegaram por trás" o grandioso exército de Napoleão

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  11. Analise bacana! Rodei a beça procurando a narrativa dessa composição. Abraços

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  12. Obrigado pelos comentários enriquecedor e saudável

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