quarta-feira, 24 de março de 2010

O segredo dos regentes...

Sergiu Celibidache
No começo deste ano, quando ainda morava no Brasil, estava conversando com um amigo amante da música clássica sobre o meu sonho de também ser regente. Na hora que eu disse isso, ele me encheu de perguntas sobre o assunto. Para algumas delas, naquele momento, fiquei até sem respostas.



Até duas horas atrás, tinha uma opinião formada e uma idéia clara em minha cabeça a respeito do papel do regente em uma orquestra. Ser regente é muito mais do que simplesmente suceder a queda de Dom Pedro I (*). É preciso saber lidar muito bem com as pessoas e ser extremamente competente para conseguir demonstrar positivamente seu ponto de vista, através do vasto conhecimento adquirido sobre música ao longo de sua vida. Sempre disse que ser um bom regente é principalmente fazer um bom trabalho nos ensaios e saber exatamente o que quer da obra (ouvindo detalhadamente cada instrumento, sabendo muito bem o papel de cada um e transformando todos os diferentes sons dos diversos músicos da orquestra em um único som harmonioso extremamente interligado entre si, capaz de criar uma sensação especial e única em cada um dos ouvintes). Para mim, a pirotecnia gestual do regente, que algumas vezes ocorria nos concertos, não influenciava muito no resultado final e o sucesso do concerto não era nada mais e nada menos que uma simples conseqüência de um belo trabalho nos ensaios.

Essa minha teoria pode até parecer coesa e bem formulada, mas acabei de chegar de um concerto que me fez refletir bastante a respeito. O maestro de hoje pareceu ter feito um belo trabalho com a orquestra na Sinfonia 3 de Beethoven onde os fraseados, contornos e idéias melódicas foram muito bem realizadas. Apesar de ter sido um bom concerto, o maestro parecia estar completamente esgotado e cansado. Sem o vigor beethoveniano nos momentos de grande tensão e com alguns movimentos "duros" em momentos melódicos a orquestra pareceu ficar um pouco confusa e demorou um pouco para conseguir entrar no clima da "Eróica". O que mais me chamou atenção foi perceber que de fato, algumas vezes somos levados pelo nosso cérebro, que nos prega peças e nos faz escutar com os nossos olhos.

Será que o maestro realmente tem tamanha influência na hora do concerto? Será que os músicos realmente ficam empolgados e contagiam-se com o brilho e a presença de um bom e "comunicativo" maestro? Depois de hoje essas e muitas outras perguntas começaram a passear pela minha cabeça e apesar de ter as respostas através de uma nova opinião formada, acho melhor esperar um pouco até começar a estudar regência para poder realmente defendê-las, compreendê-las e explicá-las com um ponto de vista pessoal (através da prática).

Abraço a todos,

John Blanch
(Twitter / Formspring / Site / Email)



(*) Para quem não entendeu a pitada de humor, estava me referindo ao Período Regencial do Brasil entre Dom Pedro I e II

8 comentários:

  1. Olha, evitando o comentario do anonimo ali rs,
    eu queria dizer minha opinião.
    Seu blog é único e eu acho muito digno falar sobre um tema como a música clássica, sou aprendiz de violino e comecei tem 6 meses, toco bem e afinado.. mas isso não importa. Vou falar sobre a experiencia que o projeto de onde moro teve ano passado, com João Carlos Martins... Acho que vc ja conhece ele né ? rs ou não;
    Ele veio até minha cidade (Votuporanga-SP) pra reger e batizar a orquestra de alunos do projeto Música na Escola, vemos que a regencia faz da orquestra um som único, é como se fosse a interpretação da orquestra toda, junta num som grande e amplo, causando em cada um a sensação de que existe ali somente um instrumento, a música. Quando recebemos a regencia de Joao carlos martins, o impeto com que ele regeu foi grande e fez com que tirassemos o triplo de som, em outras palavras, o regente é 'alguém pra conversar sem fazer barulho' na orquestra, onde fazemos música.
    Eu acredito que sem regencia tudo seria um desastre e com muito esforço tocariamos uma orquestra para frente como se ela somente fosse um quarteto e etc..

    Seu blog tá demais !
    abraço
    Rodolfo Minhoto

    ResponderExcluir
  2. Olá John. Já ouvi falar de você pela nossa Mestra Lacorte. Vi seu blog no facebook e, como um estudante de regência, gostaria de dar minha opinião.
    Sempre estudei piano dentro e fora do Brasil e assim como você tive essa exata indagação sobre o papel do Maestro: se o concerto era resultado de um belo ensaio ou se a figura do mesmo empolgava os músicos de certa forma ou algo assim.

    Tenho apenas quatro anos nesse maravilhoso e complexo mundo da regência, e tenho descoberto que esses dois fatores existem e são apenas dois dentre muitos outros pontos que explicam a existência de um maestro.
    A semiótica tenta explicar um pouco, afinal o paralelo imagem (maestro-orquestra) e som (orquestra-Música) funciona de forma intuitiva.

    Sem contar que o caráter do Maestro mostra muito de sua música, de nada adianta um gênio musical se este não consegue tomar um café com o último violinista.

    Hans von Bülow foi um exímio (e pioneiro) maestro a dominar a linguagem Imagem-Som.

    Enfim... assunto amplo!! :)

    Parabéns pelo blog, Luciano Freitas.

    ResponderExcluir
  3. De fato, pirotecnia gestual apenas não faz um bom concerto. É preciso que os gestos de um (bom) regente sejam claros naquilo que ele busca transmitir em sua interpretação de uma peça musical.
    Uma orquestra é mais um exemplo de um agrupamento humano e, como tal, tem as dificuldades comuns à qualquer outro tipo de grupo social. Por isto, a empatia de um (bom) regente, aliada à boa técnica de todos (músicos e maestro) são elementos essencias para se atingir um ótimo resultado numa performance.

    ResponderExcluir
  4. Olá John!
    É a primeira vez que venho no seu blog e adorei esse post!
    Estudo violoncelo (já nos conhecemos, mas acho que você não vai lembrar de mim!) e sempre pensei muito nessa questão, porém em relação mais aos instrumentistas.
    Pessoalmente, acho que uma apresentação bem realizada deve conseguir englobar tudo que ocorre nela e acredito que o elo que você consegue com a plateia faça parte disso. Não fiz muitos recitais durante a minha vida, mas dos poucos que fiz pude perceber que quando você se entrega completamente à música o seu corpo reage da maneira mais natural, e isso é absorvido pela plateia de alguma forma. Não consigo me apaixonar por uma performance quando o instrumentista está completamente estático, mesmo que esteja tecnicamente perfeito.
    Como músico de orquestra posso afirmar que essa dinâmica também se aplica em uma orquestra: um maestro fazendo pirotecnia lá na frente vai fazer você ter mais empolgação para tocar - é como estar dançando com alguém, se a pessoa é uma múmia, fica difícil dançar com ela...
    Lógico que tem uns que exageram na dose e ou não estudam direito ou acabam fingindo... aí eu concordo que fica difícil!
    Aliás, parabéns pelo Blog e pelo Conservatório e bons estudos nessa cidade maravilhosa!

    ResponderExcluir
  5. Obrigado a todos pelos comentários! Esse assunto realmente é um tópico infinito para discussão.

    Para RODOLFO MINHOTO: Sim, João Carlos Martins foi extremamente importante no começo da minha carreira pianística..foi ele que me apresentou para a professora Marisa Lacorte (e sem ela...sem dúvida eu não seria ninguem). Mas voltando ao assunto...como comentaram em um dos tópicos que criei no orkut...no momento do concerto, realmente o maestro conversa bastante com a orquestra, porém dessa vez, sem palavras...Se um olhar vale mais que mil palavras...imagine um gesto...

    Para LUCIANO FREITAS: Sinceramente nunca tinha ouvido falar em Hans von Bülow...vou dar uma pesquisada...obrigado pela dica! Você está estudando aonde?

    Para ANÔNIMO: Gostei do que disse sobre a orquestra ter dificuldades comuns à qualquer outro tipo de grupo social.

    Para ROGÉRIO: Aonde nos conhecemos? Tampouco me agrada muito ver um concerto e o intérprete estar estático mas ao mesmo tempo detesto ver concertos onde o intérprete faz tantos movimentos exagados que acaba ofuscando a obra com a sombra do seu ego.....

    Abraço a todos,

    John Blanch

    ResponderExcluir
  6. Ah, sou muito amigo da Bia e da Gabi e estudei piano também, aí a gente se trombou numa dessas!
    E sobre gestos não é que o intérprete deva encarnar alguém no palco, é só não ficar parecendo que não está fazendo nada. Nenhum extremo é bom...
    Um abraço!

    ResponderExcluir
  7. O regente que pensa que so com gestos pode mostrar a musica ou o caracter esta completamente vivendo em um sonho. Gestos por si sos nao significam nada. Ainda assim ha professores de regencia que ensinam isso, alguns deles famosissimos. Tem de vir de algum lugar muito mais profundo. Onde e como e'a verdadeira questao que deve enfrentar o regente. Observe-se um regente como Toscanini ou Furtwangler. Vem de dentro.

    ResponderExcluir
  8. Olá John, tudo bem ?

    Então, sobre o post acima, o que tenho a dizer é o seguinte:

    Sim, eu acho que o regente é uma peça essencial na hora do concerto. Por que? Pela razão de que ele irá coordenar, dar as diretrizes, caminhar junto com a orquestra ou coro, pois imagine, em um coro com 100 vozes ou mais e/ou uma orquestra de igual proporção, como tanta gente assim chegará a um senso se não houver alguém para organizar essas idéias?
    O regente, deve ter sim as idéias prontas, mas também dar a orquestra/coro a oportunidade de deixar a sua marca na obra, pois nunca um maestro conseguirá exatamente o mesmo resultado com duas orquestras, pois as pessoas, escolas e instrumentos são diferentes ( e no caso dos coros, os timbres das vocês, o corpo de cada corista é diferente).
    A forma como rege influencia muito no resultado e não apenas as idéias deste sobre a obra. Se a orquestra for tocar Mahler, por exemplo, suas sinfonias são enormes, se o maestro não mostrar garra, empolgação, determinação na hora do concerto, este sairá com cara de cansado. A regência, não precisa ser "Bersteiniana" - que é linda, porém não é necessário que todos rejam assim. Entretanto, a regência de Claudio Abbado, que pra mim é a mais sincera e mais motivadora deveria ser a de todos. Não é extravagante, porém se tivesse a oportunidade de ser regido por ele, eu faria o décuplo do que estou acostumado a fazer pois ele passa confiança, convicção, e quando necessário, enfático, mas nunca exagerado, coisas que toda a regência deveria ter.
    Sem o regente o concerto não acontece? Acontece sim, porém, a figura do deste perante a formação que irá apresentar a peça é a de quem irá comandar (não mandar, ser um ditador. Muitos regentes acham que são o máximo mas não são eles que fazem a música; e se este não puder estar no concerto, algo será feito, com ou sem maestro o evento terá continuidade, porém, o contrário já não é possível), será sempre o ponto de referência, a segurança para nós que estamos sobre seu comando.
    Concluindo, o maestro é essencial assim como todos os músicos.

    ResponderExcluir