segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Nova visão - Dvorak e a Sinfonia n.9 "Do novo Mundo"

Última atualização em 10 de Setembro de 2009
----------------------------------A HISTÓRIA----------------------------------
Antonin Dvorak (1841–1904) nasceu em Nelahozeves (Rep. Tcheca), e desde pequeno estudou órgão e viola (Foi violista da Ópera Nacional Tcheca). Apesar de seu "nacionalismo musical" não ser tão evidente como em Bartók, Dvorak continuou o movimento "Patriota" iniciado por Smetana e tornou-se uma das grandes figuras nacionalistas do país (é muito comum encontrarmos traços folclóricos tchecos em suas obras).

Após ganhar três vezes, na década de 70, o concurso “Austrian State Stipendium” (Organização governamental feita para ajudar a carreira de novos jovens compositores), Dvorák despertou a atenção de Brahms e em 1877 recebeu ajuda do compositor para a edição de algumas de suas obras na Alemanha (Desde então, os programas de concerto de todo o mundo passaram a colocar em destaque o nome de Dvorak).



Como é de se esperar, a fama de Dvorak atravessou o Atlântico e ele foi convidado para ser diretor do Conservatório Nacional em Nova Iorque (1892). Nos Estados Unidos, foi atraído pela melodia dos índios e dos negros e os três anos que passou na América resultaram em uma das fases mais criativas e produtivas de sua vida.

Nesse período foram compostas algumas de suas obras-primas como a Sinfonia nº9 "Do Novo Mundo" (1893) e o Concerto para violoncelo em si menor Op. 104, além das Humoresques para piano (As Humoresques, não as considero como obra-prima mas a 7ªHumoreske, por exemplo, é uma das mais "populares" do compositor)

Dvorak foi um dos poucos compositores que já analisei aqui no blog que teve, ao longo de sua vida, uma grande popularidade e fama. É interessante destacar que Dvorak abordou quase todos os gêneros musicais eruditos em sua vida (Suas obras para música de câmara, por exemplo, são geniais!).

No fim de sua vida ele voltou para a Europa e até conseguiu compor outras obras como poemas sinfonias e óperas mas acabou morrendo em Praga (1904) e foi sepultado como herói nacional.

CURIOSIDADES

-Você sabia que Neil Armstrong (primeiro homem a pisar na lua), levou uma gravação da 9ªSinfonia de Dvorak em sua missão espacial Apollo 11 (1969)?
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Mov.1
Mov.2 (1)
Mov.2 (2)
Mov.3
Mov.4 (1)
Mov.4 (2)
---------------------------------A MÚSICA---------------------------------
A música de Dvorak, além de sedutora, possui harmonias e melodias tão memoráveis que chega a ser quase impossível assistir um concerto dele e não sair cantando o tema principal da obra. A sinfonia n.9 "Do novo Mundo" não é nenhuma exceção e pode ser considerada como uma das maiores e mais populares obras sinfônicas já escritas.

Sempre que algum amigo que começa a se interessar por música erudita me pergunta "O que seria legal eu ouvir"? A primeira coisa que me vem à cabeça não é, de maneira alguma, a 5ª de Beethoven ou o Lago dos Cisneis de Tchaikovsky, e sim a Sinfonia n.9 de Dvorak.

A meu ver, a Sinfonia "Do novo Mundo" é tão completa que consegue representar a pureza, simplicidade e grandiosidade do ser humano em seus quatro maravilhosos movimentos. Ela é inspirada na música dos índios americanos e também na literatura americana (velhas lendas americanas nativas do poema épico de Longfellow "A Canção de Hiawatha.)

Ela foi composta em 1893, na estadia de dois anos e meio do compositor nos EUA como diretor do Conservatório Nacional de Nova Iorque e foi executada pela primeira vez em 1895 pela Orquestra Filarmônica de Nova Iorque no Carnegie Hall. Tanto nas apresentações em Nova Iorque quanto em Boston e em Vienna, o fim do 2º e 4º movimento foi marcado pelo entusiasmo do público, que foi a loucuras e ovacionou o compositor. Ele mesmo diz em uma de suas cartas à seu editor em Berlim:

"O sucesso da Sinfonia foi magnífica! Os jornais dizem que nunca um compositorr teve tamanho triunfo [...] o público aplaudiu tanto que me senti como um rei em meu camarote"

-O Significado do título "Do novo Mundo"
Como Dvorak sempre foi um compositor muito nacionalista e ligado ao seu país, é bem provável que esse título represente a Sinfonia como uma espécie de mensagem que Dvorak mandou DO novo mundo (Eua) para sua terra Natal (Rep. Tcheca), contando suas impressões e experiências nessa nova terra.

-A verdadeira origem dos temas da Sinfonia n.9 "Do novo Mundo"
Na nota de programa do concerto de estréia da Sinfonia, estava escrito que "Em sua chegada á America, Dvorak sentiu-se profundamente impressionado pelas condições e espírito desse país [...] Percebeu que as obras que criava eram essencialmente diferentes das que havia composto em seu país natal. Estavam claramente influenciadas pelas novas circunstâncias e pela vida nova."

Apesar de muitos afirmarem que a Sinfonia é composta por temas afro-americanos e de índios, o compositor deixou claro em uma de suas entrevistas, a verdadeira origem dos temas:

“Eu acredito que a música dos afro-americanos e índios são praticamente idênticas. De qualquer maneira, eu estudei cuidadosamente um certo número de melodias dos índios que um amigo me mostrou e aos poucos fui entrando no espírito da música. É esse espírito o qual eu tentei reproduzir na minha sinfonia. Na verdade, eu não usei nenhuma dessas melodias, eu simplesmente escrevi temas originais usando a peculiaridade da música dos índios como base, e os desenvolvi por meio de todos os recursos do ritmo, da harmonia, do contraponto e das cores da orquestra moderna."

É interessante lembrar que a relação entre o "povo branco" e o índio nunca foi das melhores. Seja no Brasil, ou seja na América do Norte, os índios chegaram a ser explorados, enganados, massacrados e sua cultura quase "destruída". A expansão americana ainda aumentou muito depois de 1840 (devido à modernização do transporte) e a diferença entre os costumes do branco e o índio eram cada vez mais evidentes.

Apesar de existir um pequeno preconceito contra índios e afro americanos no fim do sec XIX , o compositor, como um fervoroso nacionalista, muitas vezes encorajava seus alunos americanos a se inspirar com a música indígena e com a literatura americana, para que eles conseguissem cultivar uma música bem particular e Nacionalista (é importante reforçar que Dvorak sempre foi muito “original” em suas composições e até nas suas obras mais folclóricas ele fazia questão de criar melodias totalmente de sua autoria, porém usando aquele “espírito” folclórico.)

Acho maravilhoso o compositor "reviver" um pouco da cultura (música) indígena no fim do sec. XIX e fazer com que a sua sinfonia (uma mistura do espírito indígena, negro, americano e Tcheco) fosse apreciada por toda a eternidade.

Chega até a ser engraçado se pararmos para pensar que na estréia da obra, a elite americana (sim, aquela mesma que pode ter explorado os índios ou até mesmo escravos negros nas décadas passadas) aplaudiram de pé e ovacionaram uma composição, que tinha como base essa cultura pura e genial dos indíginas e afro-americanos!! (Meu deus, essa obra pode até ser considerada como um incrível apelo contra o preconceito)

Abraço a todos,

John Blanch

8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Cara, primeiramente parabéns por este grande Trabalho!!! Incrivelmente bem feito e dedicado!
    Sou violinista de uma cidade do interior do RJ praticamente sem nenhuma tradição musical, ainda mais no que se refere a música erudita. Desta forma, entrar em contato com um blog como esse é realmente algo que preenche o vazio musical que há aqui....rsrsrs
    Então, muito obrigado!
    Ahh... e a Sinfonia do Novo Mundo é tudo isso que vc falou msm!!!
    Nota mil!
    abraço

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  3. Parabéns, John! Apesar de tão jovem, já tem uma sensibilidade e capacidade interpretativa fascinantes! É muito gratificante ter acesso a um blog assim, pois, como sabemos, dificilmente encontramos textos críticos e interpretativos sobre a música clássica.
    Ahh...A Sinfonia do Novo Mundo realmente é magnífica!

    Muito sucesso!

    Abraços.

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  4. A Sinfônia mais famosa e mais completa do mundo ( claro , na minha opnião ) . Gostaria que todas as sinfônias fossem assim, emocionante desde da primeira nota até a última. O que mais me impressiona é o poder da saudade que Dvorák sentiu, inexplicável.

    'oka

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  5. Muito curiosa a escolha. A nona de Dvorak também está dentro da lista que costumo recomendar a quem me faz essa pergunta. Há um programa de Bernstein do ciclo Concertos para Jovens precisamente sobre esta sinfonia que é verdadeiramente magnifico. Eu hesito entre esta e a nona de Beethoven para o título de "mais completa" ambas são emocionalmente tão profundas que ... Quando me fazem a pergunta que refere costumo recomendar as duas :-) Parabéns pelo excelente Blog !

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  6. Bom, entrei no seu blog hoje , e gostei. Esta é a segunda página que leio. Você disse que as obras de câmara do Dvorák são geniais, porêm, não mensionou elas nem mesmo disse o número das opus. Gostaria que você postace elas aqui.
    Desde Criança tinha interece por piano, e consequentemente por música clássica, mas só vim escutar em novenbro de 2010, motivado por uma entrevista que Antonio Meneses deu ao Jô. Desde então não consigo parar de ouvir. Tenho muitas perguntas a serem respondidas e não consigo achar um site para responder essas perguntas, e algumas delas são:
    O que a obra representa?
    Qual o significado de cada passagem de determinados movimentos?
    Gostaria que você me mandasse algum site que me ajudasse a responder essa perguntas.

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  7. Eu não sabia dessa origem dos temas da cultura indigena. Muito obrigado pela informação.

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  8. Comprei um teclado um mês atrás, destes que vêm com lição, cabendo a vc apenas escoher a música. Só tem coisa meio brega. Mas lá no fim tinha uma tal de Symphony n9 que me pegou pelas entranhas. Tanto que fui pesquisar na net, achava que era do Beethoven... quanta ignorância... daí achei este blog. Symp. n9 Dvorák é realmente ideal para entrar neste mundo dos Clássicos...novo mundo

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