terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nova visão - Bela Bartók e o Concerto para Viola Op.postumum

----------------------------------A HISTÓRIA----------------------------------
É bem provável que para quem já tenha ouvido a sua música, a primeira coisa que lhe venha a cabeça quando falamos em Bela Bartók (1881-1945) seja "música folclórica" ou "compositor nacionalista". Sem dúvidas ele foi uma das personalidades musicais mais importantes e influentes do século XX e a meu ver, junto à Kodaly, o compositor húngaro mais importante da história da música.



Bartók nasceu em uma cidade húngara (hoje Romênia) e começou desde cedo a estudar piano com sua mãe (aos 5 anos de idade). Durante o final do séc. XIX, e começo do XX, o crescimento acelerado das cidades acentuou cada vez mais a distância entre a população urbana e rural, então logo após graduar-se na Royal Academy of Music (1901), Bartók resolveu resgatar a verdadeira música húngara, embarcando no que hoje chamamos de etnomusicologia [Estudo da música cultural (folclórica)].

Bela Bartók e Zoltán Kodály viajaram durante décadas pelo no interior da Hungria e países vizinhos, recolhendo milhares de músicas folclóricas. Com suas pesquisas, eles mostraram ao mundo, que a concepção de "música húngara" da época, estava completamente errada (ex: Danças húngaras de Liszt). O que os ocidentais chamavam de "música húngara" era, na verdade, a música dos ciganos húngaros (totalmente diferente da verdadeira música húngara)

Sendo por influência de Kodaly, ou não, Bartok também "migrou" para a área pedagógica musical como professor da Academia de Música de Budapest no começo do séc.XX.

Devido ao fascismo europeu em ascensão na década de 30, Bartók recusou-se a tocar na Alemanha e até chegou a proibir que suas músicas fossem executadas nas rádios alemãs ou italianas! Quando chegou a 2ªguerra mundial, ele fez um concerto de despedida em Budapest (1940) e foi para os EUA.

Imagine um compositor relativamente "desconhecido" em um país totalmente "estranho"... Durante sua vida, a sua obra não era muito popular na Hungria e muito menos nos EUA. Ele raramente conseguia fazer concertos ou turnês e devido à Leucemia, seus últimos anos de vida foram extremamente difíceis (ele passou por depressão e chegou a ficar 3 anos sem compor)

Bartók sempre teve o sonho de voltar para a Hungria (sua "pátria amada"), mas nunca conseguiu realiza-lo. Em 1945, quando ele finalmente começou a ser conhecido na América como um grande compositor europeu, acabou morrendo de leucemia em Nova Iorque. Após sua morte ele passou a ser conhecido como um dos maiores gênios do sec.XX e considerado como um dos mais importantes compositores modernos.

Como descrever o estilo de Bartók? As obras de Bartók logicamente tiveram várias fases diferentes e foram evoluindo com o tempo mas em geral ele consegue misturar elementos clássicos (primeiras composições), românticos (primeiras composições) contemporâneos e logicamente tudo isso marcado pelo folclore húngaro.

CURIOSIDADES
-Você sabia que Bela Bartók chegou a ter aulas de piano com o pupilo de Franz Liszt, (Istvan Thomas)?!

-Por mais dissonante que seja, Bartók nunca chegou a ser totalmente atonal.

-Você sabia que os quartetos de Bartók são considerados por muitos como as melhores obra dos gênero após as de Beethoven? Maestros como Pierre Boulez e Simon Ratlle são um dos principais defensores dessa idéia.

-Você sabia que os contemporâneos de Bartók chamam sua obra "Microcosmos" de "O cravo bem temperado do Sec XX"?

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Mov. 1
Mov. 2
Mov. 3
(Disponibilizado por um dos leitores do blog! Muito obrigado!)
---------------------------------A MÚSICA---------------------------------
Concerto para Viola e Orquestra Op.postumum
A música de Bartók sempre é marcada pelo folclore húngaro, e diferentemente dos compositores românticos (que tentavam enquadrar a obra folclóricas nas "regras" da música erudita da época), Bartók ignorava as "irregularidades" inatas da música folclórica e sempre compunha obras "fielmente húngaras".

VIOLA: A viola faz parte da "família" dos instrumentos de corda de uma orquestra (violino, viola, cello e contrabaixo). A viola é um instrumento um pouco maior e mais grave que o violino, com um som característico bem "aveludado" e "suave". Devido a falta de personalidade, efeitos sonoros e timbres (se comparados com o violino ou o cello), a viola nunca foi considerada um instrumento solista ou virtuoso e raramente é escolhido pelos compositores em obras "solo" ou "concerto".

William Primrose, amigo de Bartók e um dos melhores violistas de todos os tempos, pediu para que o compositor compusesse alguma obra para viola e orquestra (1945). Em um primeiro momento, Bártok rejeitou a proposta, mas após William lhe mostrar algumas obras para viola extemamente virtuosas, Bartók ficou seduzido pelo instrumento e aceitou compor a obra já no fim de sua vida, e no estágio final de sua leucemia.

Você deve perguntar: O que acontece quando o compositor morre antes de terminar sua obra?
Logicamente a obra fica incompleta, e por mais "estranho" que isso pareça, é muito comum acontecer. Os exemplos mais famosos disso são o Requiem de Mozart e a 10ª Sinfonia de Mahler.

Tanto o concerto para viola quanto o concerto para piano n.3 são obras que Bela Bartók não conseguiu terminar durante sua vida (Esse é o motivo da obra ser Op.Póstumo). No concerto para viola, o compositor deixou alguns rascunhos e esboços da parte orquestral e apesar de dizer que ambas as obras estavam prontas, ele não determinou o instrumento. Um de seus alunos (Tibor Serly) usou a "técnica" instrumental de Bartók, e fez a orquestração do concerto para viola. A seguir temos uma parte da entrevista feita com esse seu aluno:

"[...]Bartók era um dos poucos compositores que não gostava de fazer reduções para piano e sempre pensava orquestralmente. [...] O manuscrito não era, de maneira alguma, um pequeno "rascunho". Estava tudo completo, todas partes instrumentais, no entanto ele não marcou os instrumentos e fez poucas denominações. Tive que decifrar e colocar tudo em ordem.[...] Existiam alguns lugares onde Bartók demonstrava exatamente o que queria (como no segundo movimento) e outros onde apenas existia a linha melódica e apesar de Bartók saber exatamente o que queria, não deixou nada marcado"(Tibor Serly, entrevista com David Dalton em 1969 - adaptação de John Blanch)

O concerto está dividido em 3 movimentos, todos eles ligados entre si por uma "transição" (não tem nenhuma pausa grande entre os movimentos). Resumidamente, posso dizer que o 1º movimento (Moderato) começa com um interessante tema da viola acompanhado pelo pizzicato dos cellos e baixos que serve como uma espécie de cadência que antecede a entrada da orquestra e no decorrer do movimento encontramos 3 principais temas, tratados de uma maneira não diferente de um movimento allgro de uma sonata do período do classicismo. O 2º movimento (Adágio religioso) começa com um tema que lembra o 1ºmovimento, porém é muito mais lírico. O 3º movimento (Allegro Vivace) é típico de Bartok, já que ele usa o uso ritmos de dança e envolve a atmosfera folclórica com sua encantadora simplicidade!

MAIS SOBRE BARTÓK:
Bartók e o Concerto para Violino n.2

Abraço a todos,

John Blanch

5 comentários:

  1. Béla Viktor János Bartók de Szuhafő, excelente compositor , pianista já ñ sei dizer não tive a oportunidade de ouvi-lo tocar rsrs. Parabéns pela ótima sugestão de concerto contemporâneo para ''VIOLA'' !!!

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  2. Grande pesquisa!
    Há uma gravação bem recente e pouco vista do grande Yuri Bashmet tocando esse concerto:
    www.youtube.com/watch?v=yPsLBX3r1Qc

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  3. Muito obrigado aos comentarios!!
    Nossa! ótima gravação!! Muito obrigado!! Vou coloca-lo no blog já!! =]
    Continue sempre comentando ;D
    Grande abraço

    John Blanch

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  4. bom post, so gostei do que voce sitou sobre as violas,
    acho ela um instrumento tao virtuoso quanto o violino e o cello e o contrabaixo tbm.

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  5. Esse concerto para viola é belíssimo! Parabéns para quem dispôs essa gravação!

    E, mesmo a viola sendo um instrumento que na maioria das peças faz apenas acompanhamento, ela tem sim personalidade. Ela é tão virtuosa quanto qualquer outro instrumento da família das cordas.
    Uma prova disso está em concertos como Hoffmeister, Handel, ou até mesmo no arranjo para viola da Prelude de J. S. Bach.
    :)

    Parabéns pelo blog! Muito interessante!

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